PORTAL DE NOTICIAS/MARCO APOLINÁRIO -29/10/2020 10:01
A estratégia de convencer os servidores públicos de que ele não é o “pior prefeito da história do município” para a categoria, foi recheada de informações incompletas e apelos emotivos descabidos
O ex-prefeito castilhense, Joni Marcos Buzachero (PSDB),
utilizou a internet a partir das 19h59 de quarta-feira, 21/10, para tentar
rebater as severas críticas que o rotulam (em suas próprias palavras) como o “último
na lista de contentamento” do funcionalismo público municipal de Castilho, no
quesito salário pago à classe ao longo de seus três mandatos (2001/04, 2005/08
e 2013/16).
Nos quase 34 minutos de transmissão, Joni desperdiçou cerca de 1/3 do tempo para tentar explicar aos internautas os motivos que o levaram a não conceder absolutamente nada de reajuste em 2015 e apenas 1,0% em 2016. Seu principal argumento foi a possível queda na arrecadação de ICMS do Município, que poderia causar um arrombo nos cofres públicos de R$ 40 milhões por ano a partir de 2017 (cerca de R$ 3.800.000,00 mensalmente).
Este seria o motivo que, segundo ele, levou à adoção de
medidas impopulares, como a quase nulidade de reajustes por dois anos (2015 e
2016), e o corte integral das bolsas de estudo para Cursos Superiores, redução
nas bolsas para Cursos Técnico-Profissionalizantes e corte de 50% no transporte
para estes estudantes.
Mas seu discurso populista e quase convincente, deixou
enormes brechas que levam não apenas os servidores públicos, mas também
estudantes e eleitores em geral a questionar as informações que ele mesmo
divulgou.
Para analisar o conteúdo de sua explicação, é necessário manter os olhos atentos em seus três mandatos como prefeito. No primeiro deles, foram listadas Leis Municipais que comprovam reajuste salarial de 22,12% em todo o período compreendido entre 2001 e 2004.
Tática do candidato é tentar sensibilizar eleitores com discurso populista e recheado de emoção
A curiosidade, no entanto, começa a surgir a partir do
segundo e consecutivo mandato, transcorrido entre 2005 e 2008, que atingiu
21,00% de reposição. Aqui, faltou ele explicar o motivo pelo qual os
funcionários públicos não tiveram sequer um centavo de reajuste salarial no ano
de 2006, já que não havia riscos de perda na arrecadação de Receita e muito
menos a folha de pagamentos do Município estava arranhando o teto máximo
permitido pela Legislação, cujo percentual equivale a 54% de toda a verba
arrecadada pelos cofres públicos num ano.
Outro fator interessante na análise destes dois primeiros
mandatos, é que o Vale Alimentação dos funcionários públicos municipais ainda
não havia sido criado: ele surgiu apenas em 2008, com o valor de R$ 130,00
mensais.
Já em seu último mandato (2013/16), Joni concedeu reajustes
reais em apenas dois anos de governo, sendo 7,00% em 2013 e 6,15% no ano
seguinte. Já em 2015, nenhuma correção de perdas foi concedida porque ele “estava
pensando no bem-estar da população e agindo com responsabilidade e por amor aos
castilhenses”, uma vez que existia o temor da arrecadação daquela época cair
cerca de 50% em relação à atual. E, em 2016, mesmo com a primeira greve do
funcionalismo municipal e os insistentes apelos da Câmara para rever os
percentuais, Joni concedeu apenas 1,00% de reposição.
INFORMAÇÕES QUE
‘ESQUECERAM’ DE DIVULGAR
Importante destacar aqui o posicionamento da Câmara de
Vereadores em relação aos sucessivos e opressivos cortes promovidos por Joni no
Orçamento Municipal. Curiosamente, neste mesmo período de quatro anos do último
mandato dele (que somaram 14,15% de reposição), a Câmara - cuja receita depende
exclusivamente da arrecadação do próprio Município, elevou os salários dos seus
servidores em expressivos 33,66%.
Mas calma aí que esta não é a parte mais polêmica deste assunto. Além disso, a Câmara tentou reverter a anulação de reajustes no ano de 2015, promulgando a Lei Municipal 2.542, no dia 02 de setembro de 2015 (acesse o site da Câmara e confira: https://camaracastilho.sp.gov.br/temp/28102020013550arquivo_2542_2015.pdf), mas conforme os próprios dados divulgados por Joni em sua live, esta correção nunca aconteceu, apesar de não existir nenhuma revogação da Lei aprovada e devidamente promulgada à época pelo presidente do Legislativo Municipal, vereador Wagner de Souza Oliveira.
Em outras palavras, se a Lei publicada por Waguinho em
setembro de 2015 tivesse sido acatada por Joni, os funcionários teriam 7,00% a
menos de perdas salariais em relação à inflação.
Também é importante destacar que ao longo de seus três
mandatos, Joni não chegou a conceder “aumento” para os funcionários. O que
existiu foi uma reposição de perdas com base na inflação de cada ano e, neste
quesito, ele falhou por repor este direito trabalhista em pelo menos três anos
(2006, 2015 e 2016). Então, os servidores o consideram o “último na lista de
contentamento” em relação à revisão salarial não apenas por causa do 1%
concedido em 2016, mas também -e principalmente- pelas correções que deixaram
de acontecer em 2006 e 2015.
TENTOU CONVENCER
Em nova tentativa de convencer servidores, suas famílias e o eleitorado em geral, Joni chegou a apelar para os aumentos concedidos no Vale Alimentação (benefício este que não soma nada entre os direitos na hora que o funcionário vai se aposentar). A lei que criou este benefício foi enviada por Joni e aprovada pela Câmara em 2008, com valor inicial de R$ 130,00 mensais. Nos quatro anos que se seguiram, o antes vice e então prefeito dr. Antônio Carlos Ribeiro mais do que dobrou o valor deste Vale, que saltou para R$ 300,00 em 2012, ano em que ele deixou o cargo.
De volta ao poder, Joni elogiou seu ex-vice pelo aumento
expressivo concedido no Vale Alimentação. Porém, emendou a fala numa tentativa
de se vangloriar por ter autorizado cerca de 40% de aumento neste benefício
somente em 2013, quando elevou o repasse mensal para R$ 410,00. Mas o aumento
substancial morreu por aí mesmo, já que em 2016, o valor recebido por cada
servidor era de R$ 500,00. Em outras palavras, ele não conseguiu o mesmo sucesso
de seu antecessor, ou seja, superar os 100% de aumento no Vale Alimentação em
apenas 04 anos.
Fora os dados divulgados pelo próprio candidato e as demais informações apuradas por nossa reportagem, Joni não conseguiu convencer ninguém de que está entre os prefeitos que mais beneficiaram o funcionalismo público, como ele tenta demonstrar logo no início de sua fala, relembrando as comemorações do Dia do Servidor Público Municipal e os churrascos “fartos acompanhados por chopp ou cervejinha gelada e música”, eventos estes em que ele próprio raramente aparecia.
Pelo contrário, desperdiçou tempo precioso de sua live (e
principalmente dos internautas) para atacar a atual administração, que sequer
concorre à reeleição apesar de ter concluído grande parte das obras inacabadas
deixadas por ele, restaurado várias áreas esportivas e de lazer e atraído
poucos, mas significativos investimentos para o município, além de eliminar e
corrigir aquela aberração de quiosques nada funcionais que ele construiu na
Praça da Matriz, sacrificando a principal rota de acesso de socorro ao Hospital
José Fortuna.
LIVE FRACA
O balanço de sua live transmitida pelo Facebook ficou muito
aquém das expectativas geradas pelos insistentes convites para que os
servidores a assistissem, atingindo apenas 2.900 visualizações no decorrer de
seis dias.
O candidato pode não ter percebido ainda, mas já passou a
hora dele abandonar ataques aos demais políticos locais, assumir os encargos
por seus erros e prometer apenas aquilo que ele pode realmente cumprir, ao invés
de parcerias duvidosas cujo passado já mostraram ser falsas e insistir em ser o
“pai” de uma criança que não é sua, mas sim da Solatio (usina fotovoltáica) que
independente dele estar ou não no Governo de Castilho, estará iniciando suas
atividades no município em abril do próximo ano, conforme o depoimento do
próprio empresário em outra live também divulgada por Joni.