climatempo -08/09/2021 08:55
O Brasil é um dos países mais privilegiados em quantidade de
água disponível, mas está passando pela pior seca dos últimos 91 anos. A
gestão inadequada dos recursos hídricos, com altas taxas de desperdícios e
vazamentos, somada a uma percepção errada do risco de estiagens severas em um
mundo cada vez mais quente, trouxe o país a uma situação trágica de escassez em
boa parte do Sudeste, Centro-Oeste e partes do Sul e do Norte.
A primeira consequência da estiagem foi o aumento nos
preços da comida. A seca também diminuiu a capacidade de geração hidrelétrica,
levando ao aumento do uso de termelétricas - que encarecem a conta de luz, contribuem para o aquecimento
global e também consomem muita água em processos de resfriamento, agravando
ainda mais a crise hídrica localmente.
Mesmo com o aumento no uso dessas usinas poluentes e caras,
faltará energia a partir de outubro, segundo o Operador Nacional do Sistema,
que recomendou aumento ainda maior no uso de termelétricas e importação de
energia.
Impactos do aquecimento global no setor elétrico
Com o calor se aproximando, a atenção está se
voltando para o impacto nas torneiras. Diversas regiões do país já enfrentam
problemas de abastecimento, o que pode se agravar com a aproximação do verão.
Sob a influência do fenômeno La Niña, que reduz a chuva no centro-sul durante a
primavera, a tendência é que a situação do país piore nos próximos meses.
Não é de hoje que o Brasil está secando
Segundo um estudo divulgado em agosto pelo Mapbiomas,
o país perdeu cerca de 15% de sua água desde a década de 1990.
Esse volume corresponde, por exemplo, ao dobro de toda a água doce disponível
no Nordeste. De acordo com o recente relatório do Painel Intergovernamental sobre
Mudanças Climáticas (IPCC), a estimativa mais otimista para o Brasil já prevê o
agravamento das estiagens ao longo deste século.
Região Sudeste
Desde o dia 2/9, a cidade de Franca, no interior de São
Paulo, faz rodízio de abastecimento. Planos de racionamento já estão
em curso em outras cidades paulistas, como Salto, que desde 7 de julho só
oferece 12 horas de água por dia aos moradores. Aproximadamente 80% da cidade é
abastecida pelo Ribeirão Piraí, e em agosto, a água do rio não chegou nem ao
número 0 da régua de medição.
Em Bauru, 90 mil pessoas abastecidas pelo rio Batalha ficam
sem água em dias alternados, enquanto São José do Rio Preto faz rodízio de 13 a 20 horas.
Em Itu, quem desperdiça água pode ser multado, e as autoridades locais
admitem que a situação pode ficar ainda mais complicada se não chover o
previsto para o mês de outubro.
Na cidade de São Paulo, moradores de Cidade Tiradentes, na
zona leste, já reclamam da falta e da qualidade da água que sai das torneiras.
No conjunto das represas, o volume de água para a Região Metropolitana de
São Paulo é 20% menor do que o registrado em 2013, ano anterior à última crise
hídrica.
Reservatórios da Grande São Paulo estão em alerta
No Rio
De Janeiro, os principais reservatórios do estado estão chegando ao
limite: o de Paraibuna está em 27% da capacidade; Santa Branca 19%; Jaguari
29%; e o do Funil 38%.
Com a aproximação do verão, o volume de água
disponível pode ser insuficiente para atender ao aumento no consumo.
Em Mariana (MG), o nível das captações está baixo e o consumo
aumentando devido ao calor e à baixa umidade relativa do ar. Não chove há mais
de 70 dias, e o abastecimento de água já está comprometido no município e
cidades do entorno.
A seca no Sul de Minas já afeta profundamente o turismo,
sobretudo na região de Furnas. No triângulo mineiro, é a produção de alimentos
que segue severamente impactada. Lagos e pequenos córregos da região
usados na irrigação secaram, e a economia dos municípios enfrenta forte
declínio.
Amazônia seca
No Acre, o rio que dá nome ao estado se aproxima da
menor cota histórica, registrada em 2016, quando o nível ficou em 1,30 metro.
No dia 1/9, o Departamento Estadual de Água e Saneamento iniciou a instalação
de bombas para aumentar a capacidade de captação, o que pode mitigar os
problemas de abastecimento que já afetam os bairros mais altos da capital do
estado.
Rotina de falta d’água
O estado do Paraná já convive com problemas de
abastecimento desde março do ano passado. A capital Curitiba e
mais 13 cidades da região metropolitana estão há meses sob um sistema de
rodízio em dias alternados.
A situação é semelhante à do Distrito Federal, que
enfrenta a pior crise hídrica dos últimos vinte anos. A Adasa (Agência
Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do Distrito Federal)
decretou estado de alerta no final de agosto e declarou que se não
chover nas próximas semanas, a água para o abastecimento da região irá acabar
em cerca de 70 dias.
Em Mato Grosso do Sul, a seca histórica do rio Paraguai levou o serviço de
abastecimento do estado, Sanesul, a adotar um tipo alternativo de captação de
água - bombas serão colocados no meio do leito do rio, numa tentativa já
desesperada de manter o abastecimento dos municípios de Corumbá, Ladário e
Porto Murtinho.
Prejuízos
Já o rio Paraná está tão seco que a navegação na
hidrovia Tietê-Paraná está suspensa desde abril. Segundo o Sindicato dos
Despachantes Aduaneiros, os prejuízos devem chegar a R$ 3 bilhões, afetando
principalmente a produção agrícola.