cnn -12/09/2024 22:55
A América do Sul quebrou o recorde do número de incêndios
anuais no dia 11 de setembro. O continente está sendo devastado por uma
onda de incêndios que vão da floresta Amazônica passando pelo pantanal e as florestas bolivianas.
Dados de satélite analisados pelo Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (Inpe) registrou 346.112 focos de incêndio até agora neste
ano em todos os 13 países sul-americanos, ultrapassando o recorde registrado em
2007 de 345.322 casos, em um histórico que começa em 1998.
Um fotógrafo da Reuters testemunhou chamas gigantescas
queimando a vegetação ao lado das estradas, escurecendo o horizonte no centro
da Amazônia brasileira nesta semana.
A fumaça dos incêndios escureceu os céus de cidades como São
Paulo, alimentando um corredor de fumaça que pode ser visto do espaço e se
estendia na diagonal pelo continente da Colômbia até o Uruguai.
Os governos do Brasil e da Bolívia enviaram milhares de
bombeiros para tentar controlar as chamas, mas estão à mercê
dos eventos de temperatura extrema que alimentam os incêndios.
De acordo com os pesquisadores, ainda que a maior parte dos
incêndios tenha origem humana, as condições de seca e de alta
temperatura geradas pela mudança climática ajudam a eles se espalharem de
maneira mais acelerada. A América do Sul passou por diversas ondas de calor
desde o ano passado.
“Não tivemos inverno esse ano”, disse Karla Longo,
pesquisadora do Inpe sobre qualidade do ar, ao comentar o clima em São Paulo nos
últimos meses. “É absurdo.”
Ainda que seja inverno no Hemisfério Sul, as temperaturas em
São Paulo se mantiveram com máximas acima de 32 graus Celsius desde sábado (7).
Centenas de pessoas se manifestaram em La Paz, na Bolívia,
exigindo ação contra os incêndios, com placas dizendo “Bolívia em chamas” e
“Para um ar mais limpo, parem as queimadas”.
“Por favor, percebam o que realmente acontece no país,
perdemos milhões de hectares”, disse Fernanda Negron, ativista dos direitos do
animais no protesto. “Milhões de animais morreram queimados.”
No Brasil, a seca que começou no ano passado é a pior já
registrada, de acordo com o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de
Desastres Naturais (Cemaden).
“De uma maneira geral, a seca sim, essa de 23 e 24, é a mais
intensa, duradoura em algumas regiões e extensa da história recente, pelo menos
desde os dados de 1950”, disse Ana Paula Cunha, pesquisadora sobre secas no
Cemaden.
O maior número de focos de incêndio neste mês está no Brasil
e na Bolívia, seguidos por Peru, Argentina e Paraguai, segundo dados do Inpe.
Os incêndios de intensidade incomum que atingiram a Venezuela, a Guiana e a
Colômbia no início do ano contribuíram para o recorde, mas em grande parte
foram controlados.
O desmatamento por meio de queimadas na Amazônia cria uma
fumaça particularmente intensa por conta da vegetação sendo queimada, disse
Karla Longo, do Inpe.
“A sensação que você tem quando você está voando ao lado de
uma pluma dessa é de um cogumelo atômico”, acrescentou.
Cerca de 9 milhões de quilômetros quadrados da América do
Sul ficaram cobertos pela fumaça em alguns momentos, mais da metade do
continente, ainda segundo Longo.
São Paulo, a cidade mais populosa do hemisfério ocidental,
teve no início da semana a pior qualidade do ar do mundo, pior do que áreas famosas
pela poluição como a China e a Índia, segundo o site IQAir.com. La Paz também
ficou coberta de fumaça.
Setembro é normalmente o mês de pico de incêndios na América
do Sul. Não está claro se o continente continuará a ter um elevado número de
incêndios este ano.
Ainda que a chuva esteja prevista para a próxima semana no
centro sul do Brasil, na região de São Paulo, as condições de seca devem
continuar pelo mês de outubro na região da Amazônia, e no centro-oeste
agrícola.