jornal o foco -18/04/2021 18:36
“Entidade filantrópica registrou ocorrência contra o autor e outros 2 vereadores”
Três vereadores de Castilho foram ao Hospital “José Fortuna”
para atender reclamação de suposta falta de médico e demora no atendimento na
unidade de saúde do município, mas de acordo com informações obtidas eles adentraram
ao hospital sem autorização da diretoria da unidade. O fato ocorreu na última
quarta-feira.
Para piorar a situação, o vereador Adilson Santos invadiu a
Ala Covid (restrita a funcionários e pacientes), fazendo o trajeto até o
ambulatório da unidade para cobrar que o médico plantonista fosse atender a Ala
Covid, pondo em risco a integridade de pacientes, profissionais e dele próprio.
Adilson Santos foi advertido por funcionários da unidade que não poderia
transitar pelo local devido alto risco de infecção, mas em vão, pois o
parlamentar continuou perambulando pelo hospital.
O vereador demonstrando “descontrole emocional”, forçou
e danificou uma das portas da unidade de saúde. A reportagem requisitou imagens
do circuito interno do hospital, constando o exato momento do dano à porta. Câmera
de monitoramento registrou esse detalhe.
Adilson Santos esteve novamente nas dependências do hospital
neste sábado 17. A Sociedade Beneficente de Castilho, mantenedora do Hospital
José Fortuna, registrou Boletim de Ocorrência pela invasão, que acabou causando
transtornos aos pacientes internados, aos profissionais e pelo dano ao
patrimônio da entidade.
O presidente da entidade Valdecir Soares Pereira encaminhou
termos de declaração de funcionários e às imagens do circuito interno do
hospital para a Delegacia Seccional de Andradina, responsável pela investigação
na tarde deste sábado (17).
Essa não é a primeira vez que o vereador - chamado por
alguns populares de “descontrolado” - é alvo de registro de ocorrência, por
falta de decoro e agressividade. Segundo relatos de profissionais do hospital,
alguns médicos já estão cogitando a possibilidade em não mais prestar serviços
ao “José Fortuna”, diante dessa pressão sofrida como no caso envolvendo
parlamentares como da própria população, piorando ainda mais a situação caótica
no local.
ESPERA
Desde 2000, as unidades hospitalares do país adotaram o
protocolo de Manchester, para classificar a urgência e tempo de espera pelo
atendimento médico. O vermelho (emergência), define que o paciente deve receber
atendimento imediato. A cor laranja (muito urgente), o tempo de espera de até
10 minutos. A classificação amarela (urgente), define tempo de espera de até 50
minutos. Já a cor (pouco urgente), os pacientes podem aguardar pelo atendimento
por até 2 horas. E o azul (não urgente), pode levar até 4 horas para o
atendimento.
No entanto, diante da pandemia do coronavírus, o tempo de
atendimento dos casos de menor urgência, pode levar tempo maior para a consulta
médica.
VEREADORES
A reportagem de O Foco entrou em contato com os vereadores
para obter a versão deles sobre os fatos que geraram o tumulto. Policiais
militares foram acionados e estiveram nas dependências do hospital para
registrar o caso.
Sam Borges disse: “Eu estava em minha casa, quando vi a
postagem no Facebook e alguns vereadores dizendo que iriam até a unidade
hospitalar. Falei com o dr Pedro, que estava atendendo e na sequência chamei os
vereadores Albecyr e Adilson para falarem com o médico. Sei que os médicos,
enfermeiros e demais profissionais da saúde estão sobrecarregados, cansados
pelo aumento do número de internações e não seria justo alguém falar que não
está tendo médicos, quando na verdade está. Mas o que a população tem que
entender é que a prioridade nos atendimentos é para os casos mais graves e a
espera pelo atendimento nos dias atuais pela demanda da Covid tem
sobrecarregado todos os hospitais do país”, declarou.
“Sei que todos nós munícipes queremos ser atendidos, mas
neste momento temos que ter a compreensão que a demanda é muito grande e está
difícil para os hospitais contratarem mais médicos e equipe de enfermagem.
Ontem mesmo, deram plantão no hospital três médicos, e eles têm se empenhado em
salvar vidas. São vinte e dois munícipes que estão internados e eles têm que
cuidar de todos e ainda do atendimento ambulatorial”, alerta Sam Borges.
“Para colaborar com o hospital, pedi autorização para eu
contratar uma enfermeira para cuidar de minha mãe no período noturno e assim
deixar um paciente a menos para ser medicado. Se a situação está ruim pode
ficar pior, pois as notícias correm e já imaginou o caos que vai virar se os
médicos não quiserem trabalhar no hospital de Castilho?”, indaga o vereador.
“Quando achei que tudo estava resolvido, sai do hospital,
fui até Andradina para buscar a enfermeira que ficou à noite com minha mãe. Ao
chegar na recepção do hospital fui indagado por um funcionário sobre o motivo
da minha permanência no local e acabamos discutindo, pois ele achou que eu
estava lá para incitar o povo contra o hospital, quando minha intenção foi
justamente o oposto, explicar a situação os populares que estavam na frente da
unidade para não acontecer algo pior”, argumentou o parlamentar.
“Peço que todos nós tenhamos mais responsabilidade e cuidado
para não inflamar o povo de forma injusta, impensada, pois ainda temos médicos
para nos atender e se não tiver? Se ninguém quiser mais trabalhar em Castilho,
como vai ficar a situação? Será que é só em Castilho que casos de menor
urgência têm tempo de espera? Repito, estamos enfrentando uma das piores
pandemias já vistas e graças a Deus que ainda temos profissionais para atender
a população castilhense. Eles também são seres humanos que se emocionam,
cansam, têm família e sou testemunha de como cada funcionário do José Fortuna
está se dedicando” – desabafou Sam Borges.
O vereador acrescentou que tem acompanhado a rotina do
hospital pelo fato de sua mãe estar internada lá há quase um mês e que alguns
médicos chegaram a conversar com o mesmo sobre a possibilidade de deixar a
unidade de Castilho, juntamente por essa “pressão” popular contra os
profissionais.
Sam Borges anunciou que pediu ao prefeito Paulo Boaventura agendar
uma reunião com a Mesa Diretora da Câmara para enviar um projeto em regime de
urgência visando contratar mais médicos, fisioterapeuta e equipe de enfermagem,
a fim de diminuir a sobrecarga da demanda no atendimento dos munícipes.
RELATOS
Já o vereador Albecyr Pedro respondeu que foi acionado por
populares reclamando da demora no atendimento e nega que tenha participado de
tumulto. “Cheguei no hospital sozinho, de forma educada conversei com o pessoal
ali e nem sabia que outros vereadores estariam lá. Fiquei na recepção, dialoguei
com o médico e em nenhum momento levantei o tom de voz. Fui questionado pelo
fato de só ter um médico atendendo, mas sei que não é culpa dos profissionais
que estão trabalhando exaustivamente”, disse
Segundo ele, depois chegou o Sam e foi falar com o médico. O
Roni chegou e aconselhou o Sam a não ficar por alí, pedindo para ele se retirar
dali por ser uma área contaminada. Os dois acabaram batendo boca, ficaram na
recepção discutindo e eu sai e não vi mais. Da minha parte só fiquei na
recepção e lá fora” – concluiu Albecyr Pedro.
QUESTIONANDO A IMPRENSA
Já Adilson Santos limitou-se apenas em questionar se somos
jornalista e se possuímos faculdade da área. Uma mensagem enviada pelo
parlamentar foi apagada pelo mesmo, não sendo possível verificar a
argumentação.
PARTE DO SALÁRIO BLOQUEADO
O parlamentar, que recentemente teve 30% dos seus
vencimentos bloqueados por ordem judicial para indenizar uma ex-esposa após a
mesma ter acusado o, hoje parlamentar, de agressões físicas e verbais, tem se
posicionado de forma indecorosa e às vezes até leviana.
Tentando agir como uma espécie de “Gabriel Monteiro”
castilhense, Adilson Santos poderá ter o mesmo destino que o vereador carioca.
Monteiro teve que se afastar da Polícia Militar do Rio de Janeiro para não ser
expulso da corporação. Agora, o Conselho de Ética da Câmara irá analisar pedido
de cassação do parlamentar diante de péssima postura na vereança e ainda a
Justiça proibi-lo de adentrar em órgão público durante a pandemia.
Desde que assumiu uma cadeira na Câmara de Castilho, Adilson
Santos vem dando motivos de sobra para ingresso de pedido de abertura de CP
(Comissão Processante) contra seu mandato. Por diversas vezes o vereador
descumpre ordens do presidente da Câmara ao fazer uso da palavra sem estar
inscrito, interrompe vereadores enquanto os mesmos fazem uso da tribuna e nos
mais recentes episódios, foram registrados Boletins de Ocorrência contra seus
atos.
FUGA APÓS BRIGA
Em fevereiro, Adilson Santos saiu “correndo pelo mato” após
se envolver em uma briga com um policial militar aposentado, deixando para trás
a arma que estava em sua posse. Após adentrar no cemitério local, o vereador
fez vídeo reclamando da falta de coveiros e ofendeu o prefeito Paulo
Boaventura.
O chefe do Executivo pediu abertura de processo
administrativo contra Adilson Santos e a atitude do vereador fez com que a
administração municipal instaurasse sindicância contra os funcionários do Campo
Santo “São José”, por falta de uso de EPI em sepultamento de óbito pela
Covid-19 e declarações ao parlamentar.
TOM AMEAÇADOR CONTRA
SECRETÁRIA
No início de abril, Adilson Santos adentrou na sala da
secretária municipal da Saúde, Márcia Zotelli e em tom de intimidação quis
pressionar a servidora pública. A secretária também registro ocorrência contra
o parlamentar. Por último, ao adentrar sem autorização no Hospital José Fortuna,
na noite da última quarta-feira, e forçar sua entrada no setor de atendimento
de pacientes infectados pela Covid-19, o parlamentar danificou uma porta de
acesso ao local, sendo registrado novo Boletim de Ocorrência contra ele.
Não satisfeito, segundo relatos de funcionários do hospital,
o vereador teria retornado neste sábado (17/04), nas dependências do “José
Fortuna” e importunado servidores da unidade de saúde.
CRIME CONTRA A HONRA
Também pesa contra o vereador, Boletim de Ocorrência
elaborado por um delegado de Polícia Civil de Andradina e uma promotora da
Comarca de Andradina por suposta ofensa à honra dos servidores públicos
estaduais proferida por Adilson Santos.
DESABAFO
Funcionárias do Hospital “José Fortuna” usaram as redes
sociais para desabafar sobre o episódio da “invasão” do hospital. Adilson
Santos por suas atitudes pífias tem conseguido desestabilizar emocionalmente os
funcionários do hospital e profissionais da saúde do município, que além de
trabalharem à exaustão para salvar vidas, especialmente frente a gravidade da
Covid-19, tem que conviver com a pressão de um sujeito desequilibrado
emocionalmente, ainda com uma arma na cintura.