noticias ao minuto -16/09/2024 23:14
Ocasal de coreógrafos Danillo Prímola e Catarina Prímola, de
Belo Horizonte, teve de entrar na Justiça para conseguir registrar o primeiro
filho com o nome que escolheu, Piiê. O bebê nasceu em 31 de agosto, às 13h06,
na maternidade da Unimed Grajaú, região oeste da capital mineira, mas só pode
ser registrado na última quinta-feira, dia 12.
Danillo Prímola contou que foi ao cartório do 2º Subdistrito no centro de Belo
Horizonte, onde teve o pedido de registro barrado. "O nome faz alusão a um
faraó egípcio, mas disseram que eu não podia registrá-lo com esse nome, pois a
grafia e pronúncia são parecidas com a de um passo do ballet, o pliê. Eles,
então, pediram para eu fazer uma justificativa sobre a escrita, se seria com
dois ii ou y. Entreguei no mesmo momento, mas, ainda assim, não consegui
concluir o registro."
Piiê ou Piye foi o segundo faraó da XXV dinastia egípcia, de
origem cuxita. Foi também o terceiro rei da dinastia napatana do Reino de Cuxe,
sucedendo seu pai Cáchita. Cuxe é uma região da Núbia que hoje corresponde ao
norte do Sudão, aproximadamente entre os anos 753 e 723 a.C.
Danillo conta que tentou o registro em outro cartório da
cidade, mas também sem sucesso. "O primeiro cartório que fui enviou a
solicitação para a juíza, que respondeu confirmando a não possibilidade do
registro, justificando a confusão que o nome poderia gerar ao passo do
ballet".
Ao voltar ao cartório do 2º Subdistrito, ele conta que foi
barrado e que a única opção era recorrer judicialmente. "Nunca imaginei
que teríamos problema em registrá-lo, porque é um nome próprio que já existe,
não foi inventado por nós. Eles disseram que teríamos de pedir autorização na
Justiça e escrever uma justificativa. O nome Piiê é o mesmo de um faraó
egípcio, homenageado pela Escola de Samba Acadêmicos de Venda Nova, que
escolheu o tema África". O coreógrafo explica que teve contato com a
história de Piiê no ano passado, quando desfilou pela escola.
Os pais fizeram o pedido ao Tribunal de Justiça de Minas
Gerais, que foi negado sob a justificativa de "expor a criança ao
ridículo". Na última quarta-feira, dia 11, a juíza Maria Luíza de Andrade
Rangel Pires reconsiderou a decisão anterior e permitiu o registro da criança
que ocorreu no dia seguinte. "Com muita luta e ajuda da Defensoria Pública
conseguimos. Somos professores de dança e sabemos que nosso filho pode até
sofrer outros tipos de bullying, mas esse ele vai tirar de letra pois sempre
terá vivência sobre a dança e diferentes culturas dentro de casa",
salienta.
Procurada pelo Estadão, o Tribunal de Justiça de Minas
Gerais confirmou que, "diante das novas informações apresentadas, a juíza
Maria Luíza reconsiderou sua decisão, ponderando que não está afastada a
convicção de que o menino estará sujeito, pela dificuldade da grafia e pela
pronúncia, a constrangimentos. Porém, 'considerando os novos argumentos
trazidos, através do qual agora os pais explicitam a questão cultural que os
guiou para a escolha do nome, os quais não foram apontados no pedido inicial',
em respeito à cultura deles, autorizou o registro na forma pretendida, com a
grafia original, 'inclusive por entender que nomes estrangeiros devem mesmo
observar a grafia do país de origem'."