r7 -05/04/2020 23:13
Diante do isolamento social devido ao novo coronavírus, a
exposição solar fica prejudicada, mas não deve ser esquecida. A exposição
moderada ao sol é importante para sintetização da vitamina D. Entre os
benefícios da vitamina D (VD) está a melhora do sistema imunológico.
A vitamina D é um nutriente com função de hormônio que age
em diversas áreas do organismo. “Sem dúvida, manter níveis normais de vitamina
D está associado a menor taxa de infecções. Vitamina D está envolvida no
processo de defesa do organismo contra agentes infecciosos e células
cancerígenas. Isso se concluiu quando se compararam pessoas com baixo nível de
VD, versus, altos níveis de VD”, explicou o coordenador científico da Sociedade
Brasileira de Dermatologia (SBD), Helio Miot.
Segundo o médico, no mundo tem sido observados níveis baixos
de vitamina D em toda a população. “Sabemos que 60% ou até 80%, dependendo do
grupo populacional, tem níveis baixos de vitamina D, o que pode comprometer o
funcionamento do organismo como um todo, especialmente as pessoas de risco como
gestantes, idosos, imunossuprimidos, indivíduos em pós-operatório de cirurgia
bariátrica, quem tem osteoporose e doenças intestinais. Esses indivíduos devem
ter seu nível de vitamina D testado e, se forem baixos, receber a
suplementação”.
O médico explica que grande parte da vitamina D é produzida
pela pele, sendo mais de 90% pela exposição solar habitual. “Então não é aquele
indivíduo que vai se bronzear na piscina, mas é durante aquela caminhada, ao
estender uma roupa no varal, tudo isso promove uma grande síntese de vitamina
D. Outra grande parte ocorre pela alimentação, com alimentos como peixes, ovos,
derivados de leite e algumas frutas. Esses alimentos têm uma quantidade de
vitamina D. Essas são as duas principais fontes de vitamina D para o
organismo: exposição solar leve e alimentação”.
Exposição moderada
Com a situação atípica do isolamento social, a população vai
diminuir a exposição ao sol. Mas, segundo o especialista, a exposição deve
continuar sendo leve. “A síntese acontece muito rapidamente, e se houver um
excesso de exposição, o consumo de vitamina D acaba sendo comprometido. Então
não se recomenda, nem mesmo com filtro solar, ficar se expondo,
intencionalmente. As pessoas de risco, como idosos, obesos, quem está em
pós-operatório de cirurgia bariátrica, mulheres na menopausa, são indivíduos de
alto risco para hipovitaminose D. Esses indivíduos devem conhecer o seu nível e
se forem baixos, devem repor de forma oral [com medicamentos]”, orienta Miot.
O médico recomendou que também é importante a manutenção da
atividade física nesse período. “O isolamento tende a aumentar o sedentarismo,
isso faz hipotrofia dos músculos, faz uma redução do depósito de cálcio nos
ossos, maximizando os riscos de pessoas com osteoporose. É importante ter uma
atividade física mínima nessa quarentena, manter as atividades habituais de
exposição ao sol com proteção, evitando-se os horários de risco. Os indivíduos
que são deficitários de vitamina D devem fazer a suplementação segundo
orientação médica, e aqueles que querem se prevenir quanto a essa pior síntese
de vitamina D mediante o confinamento, devem ter uma alimentação rica nessa
vitamina”.
A dermatologista e especialista em estética Hellisse Bastos
dá uma dica para tomar sol de forma leve. “O ideal é ficar com a palma da mão
virada para o sol em torno de 5 a 10 minutos no máximo. Sentiu que a palma da
mão está quente, a gente já está sintetizando vitamina D. Outra dica é abrir
todas as janelas, aproveitar onde bate sol na sua casa e deixar as janelas bem
abertas para iluminar o local”.
Imunidade
Na opinião de Miot, todos devem manter níveis normais de
vitamina D, não somente para a imunidade. “O grande problema que envolve a
vitamina D e a imunidade é que, na maior parte das vezes, a vitamina D está
baixa por um problema crônico, medicamentos, idade avançada, inflamações no
intestino, sedentarismo, diabetes, cirurgia bariátrica, desnutrição, menopausa.
Essas causas subjacentes reduzem a imunidade, assim como reduzem a vitamina D”.
Ele explica que, nesse caso, não adianta dar vitamina D, é
preciso corrigir a causa da queda dessa vitamina. “Caso contrário, a
imunidade não vai se restabelecer. Por essa razão, a posição da SBD é que se
conheça seus níveis de vitamina D. Se estiverem normais, indicamos vida normal
e boa alimentação, com exposição solar habitual, com filtro solar. Se estiver
baixa, recomendamos reposição de vitamina D e uma investigação de por quê está
baixa”.
O médico alerta que o excesso de vitamina D também pode
causar distúrbios. “É certo que queremos fazer de tudo para nos protegermos de
infecção. É certo que níveis baixos de vitamina D estejam associados a maior
risco de infecção. Mas, não é certo que todos suplementem vitamina D,
indiscriminadamente. Pois o excesso também tem efeito tóxico aos rins”, conclui
Miot.
Crianças
Para as crianças, que necessitam da vitamina D para o
crescimento e formação óssea, mas que estão também em isolamento, a
recomendação do pediatra Antonio Carlos da Silveira é aproveitar o sol da
janela ou das varandas, apenas com braços ou pernas descobertos. “A vitamina D
é importante ao longo da vida, mas principalmente para as crianças em
crescimento, a presença do sol é fundamental. Mesmo durante o isolamento pela
pandemia, se expor ao sol é muito importante. Pode ser até um sol na janela, no
quarto, mas nunca por meio de vidros; se tiver uma sacada melhor ainda. Tomar
até 10 minutos é necessário para a sintetização da vitamina."
Para o pediatra, as crianças devem aproveitar o outono, já
que no inverno fica mais reduzido o período de sol. “É importante aproveitar
esse período, pois com o inverno chegando fica reduzida a incidência solar”,
lembra o médico.
Para todos os grupos populacionais, o ideal é que a
exposição ao sol ocorra até as 10h e após as 15h. Fora desse período, a
incidência solar pode ser crítica para a ocorrência do câncer de pele e outras
doenças da pele.