g1 -15/02/2022 14:20
O cineasta, cronista e jornalista Arnaldo Jabor, de 81
anos, morreu na madrugada desta terça (15) em São Paulo.
Ele estava internado desde dezembro do ano passado no
Hospital Sírio-Libanês, na região central da cidade.
Jabor havia sido hospitalizado após
sofrer um acidente vascular cerebral (AVC). Segundo a família, ele faleceu
por volta da meia-noite, em decorrência de complicações do AVC.
Jabor dirigiu "Eu sei que vou te amar" (1986),
indicado à Palma de Ouro de melhor filme do Festival de Cannes. Era colunista
de telejornais da TV Globo desde 1991.
Trajetória
Arnaldo
Jabor teve extensa carreira dedicada ao cinema, à literatura e ao
jornalismo. No cinema, dirigiu sete longas, dois curtas e dois documentários.
Também era cronista e jornalista.
Formado no ambiente do Cinema Novo, Jabor participou da
segunda fase do movimento, um dos maiores do país, conhecido por retratar
questões políticas e sociais do Brasil inspirado no neorrealismo italiano e na
nouvelle vague francesa.
Mesmo antes de se tornar um premiado diretor e roteirista,
já mostrava paixão pela sétima arte. Foi também técnico sonoro, assistente de
direção e crítico de cinema. Ele se formou pelo curso de cinema do
Itamaraty-Unesco em 1964.
Em 1967, produziu o documentário “Opinião Pública”, seu
primeiro longa metragem e uma espécie de mosaico sobre como o brasileiro olha
sua própria realidade.
O primeiro longa de ficção que Jabor produziu, roteirizou e
dirigiu foi “Pindorama”, em 1970. Ele tinha um excesso de barroquismo e de
radicalismo contra o cinema clássico. No ano seguinte, foi indicado à Palma de
Ouro, o maior prêmio do festival de Cannes, na França.
Sucessos de bilheterias e obras premiadas marcaram a
carreira do cineasta. Em 1973, fez um dos grandes sucessos de bilheteria do
cinema brasileiro: “Toda Nudez Será Castigada”, uma adaptação da peça homônima
de Nelson Rodrigues. Por ele, Jabor venceu o Urso de Prata no Festival de
Berlim em 1973.
O filme tem críticas à hipocrisia da moral burguesa e de
seus costumes. É a história do envolvimento da prostituta Geni, interpretada
pela atriz Darlene Glória, com o viúvo Herculano, personagem de Paulo Porto. O
papel deu a Darlene o prêmio Kikito de Melhor Atriz no Festival de Gramado. O
filme também ganhou um troféu no evento.
Nelson Rodrigues seguiu inspirando Jabor. O filme “O
Casamento” (1975) foi adaptado de um romance do escritor e faz uma crítica
comportamental da sociedade. Ele premiou a atriz Camila Amado com o Kikito de
Melhor Atriz Coadjuvante e o Prêmio Especial do Júri no Festival de Gramado.
Outro sucesso do roteirista e diretor foi “Tudo Bem” (1978),
o início de sua "Trilogia do Apartamento". O filme investiga, num tom
de forte sátira e ironia, as contradições da sociedade brasileira que já vivia
o fracasso do milagre econômico.
Os protagonistas são Fernanda Montenegro e Paulo Gracindo.
Em atuações consideradas primorosas, eles gravaram em um apartamento de classe
média da época. O filme tem um elenco coadjuvante estelar, com Zezé Mota,
Stênio Garcia, Fernando Torres, José Dumont, Regina Casé e Luiz Fernando
Guimarães, entre outros.
“Tudo Bem” venceu o prêmio de Melhor Filme no Festival de
Brasília e deu a Paulo César Pereio o prêmio de Melhor Ator Coadjuvante na
competição. O longa também foi selecionado para ser exibido no Festival de
Berlim e na Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes.
Em 1981, Jabor escreveu e dirigiu o premiado "Eu te
amo”, que consagrou Paulo César Pereio e Sônia Braga no cinema brasileiro. O
Industrial falido pelo milagre dos anos 70 conhece uma mulher e a convida para
sua casa, onde vivem um intenso romance em meio às crises existenciais. A
produção era de Walter Clark e a fotografia, de Murilo Salles.
Cinco ano depois, voltou com outro sucesso de bilheteria e
crítica. “Eu Sei que Vou Te Amar”, de 1986, conta a história de um casal em
crise, interpretado pelos jovens Fernanda Torres e Thales Pan Chacon. Foi mais
um sucesso do cineasta gravado entre quatro paredes em uma casa projetada por
Oscar Niemeyer, e deu o prêmio de melhor atriz para Fernanda Torres no Festival
de Cannes.
Jornais e livros
Nos anos 1990, Jabor se afastou do cinema por “força das
circunstâncias ditadas pelo governo Fernando Collor de Mello, que sucateou a
produção cinematográfica nacional”, segundo seu site oficial.
A partir de 1991, ele passou a escrever crônicas para
jornais e também a fazer comentários políticos em programas de TV da Globo —
“Jornal Nacional”, “Bom Dia Brasil”, “Jornal Hoje”, “Fantástico” — e de rádio
na CBN.
No “Jornal da Globo”, dividia os comentários com Paulo
Francis e Joelmir Beting. A partir dos anos 2000, assumiu sozinho a coluna.
Nela, abordava temas como cinema, artes, sexualidade,
política nacional e internacional, economia, amor, filosofia, preconceito.