bbc news -17/05/2020 19:11
Os médicos estão particularmente preocupados com o fato de
crianças e idosos não receberem o apoio de que precisam devido ao fechamento de
escolas, ao isolamento social e ao medo de hospitais. Fatores como a solidão, o
medo da covid-19 e incertezas quanto ao futuro agravam doenças mentais
pré-existentes e criam novos problemas para pessoas até então saudáveis.
Em uma pesquisa feita no Reino Unido, os psiquiatras
relataram aumento no número de atendimentos de emergência relacionados à
doenças mentais e uma queda nas consultas de rotina.
Eles afirmam que muitas pessoas deixaram de procurar ajuda
mesmo com os serviços de saúde mental ainda abertos, e por isso acabaram chegando
ao ponto em que atendimentos de emergência foram mais necessários.
'Os pacientes
evaporaram'
"Já estamos vendo o impacto devastador da covid-19 na
saúde mental, com mais pessoas em crise", diz a professora Wendy Burn,
presidente do Royal College of Psychiatrists (Colégio Real de Psiquiatras), no
Reino Unido.
"E estamos muito preocupados com as pessoas que
precisam de ajuda agora, mas não estão conseguindo. Nosso medo é que o
'lockdown' (fechamento total de comércio e serviço) esteja fazendo com que as pessoas
guardem problemas que poderiam levar a um 'tsunami' de doenças mentais
depois".
A pesquisa da instituição de caridade Rethink Mental
Illness, feita com 1.300 médicos de saúde mental de todo o Reino Unido,
constatou que 43% haviam visto um aumento em casos urgentes, enquanto 45%
relataram uma redução nas consultas de rotina.
"Na psiquiatria da velhice nossos pacientes parecem ter
evaporado, acho que as pessoas têm medo demais de procurar ajuda", disse
um psiquiatra.
Outro escreveu: "Muitos de nossos pacientes
desenvolveram distúrbios mentais como resultado direto da interrupção da rotina
gerada pelo coronavírus, do isolamento social, do aumento do estresse e da
falta de remédios".
Idosos e jovens estão
entre os grupos que geram maior preocupação
"Estamos preocupados que crianças e jovens com doença
mental que possam estar com dificuldades não estejam recebendo o apoio de que
precisam", diz Bernadka Dubicka, que preside a faculdade de psiquiatria
infantil e adolescente do Royal College of Psychiatrists. "Precisamos
passar a mensagem e deixar claro que os serviços ainda estão abertos."
Tanto do Reino Unido quanto no Brasil, o atendimento
psicológico continua funcionando e pode inclusive ser feito à distância,
através de plataformas de videochamada. No entato, o uso da tecnologia para
chamar um médico durante o bloqueio é difícil para algumas pessoas mais velhas,
explica Amanda Thompsell, especialista em psiquiatria para idosos.
Idosos também costumam ser "relutantes" em
procurar ajuda, e sua necessidade de apoio à saúde mental provavelmente é maior
do que nunca, diz ela.
'Prioridade clara'
A instituição de saúde mental Rethink Mental Illness disse
que as preocupações levantadas pelos especialistas são apoiadas por evidências
de que as pessoas estão convivendo com mais doenças mentais.
Em uma outra pesquisa feita no país, a maioria das pessoas
disse que sua saúde mental piorou desde o início da pandemia, devido à
interrupção de rotinas e estretégias que elas utilizavam para controlar
problemas de saúde mental como depressão, ansiedade, pânico, entre outros.
"O NHS (sistema de saúde público do Reino Unido) está
fazendo um trabalho incrível nas circunstâncias mais difíceis, mas a saúde
mental deve ser uma prioridade clara", diz Danielle Hamm, da instituição
de caridade. "É preciso investimentos para garantir que os serviços possam
lidar com esse aumento antecipado da demanda."
Segundo ela, sem o atendimento adequado no momento, pode
levar anos para que algumas pessoas se recuperem dos problemas mentais gerados
pela pandemia.