r7 -02/11/2022 10:26
Cientistas da Dinamarca encontraram mais um motivo para
questionar a reposição hormonal das mulheres no período da menopausa.
De acordo com um estudo publicado nesta terça-feira (1º), na
revista Jama Network, da Associação Médica Americana, o uso de terapias para
compensar as perdas hormonais desse período pode estar relacionado com maior
risco de depressão.
Ao longo da vida, o corpo feminino passa por inúmeras
mudanças hormonais. Essas alterações são comumente apontadas como as principais
causas para problemas mais frequentes entre as mulheres, como a depressão e a
enxaqueca.
O climatério, que normalmente acontece entre 45 e 55 anos,
caracteriza-se pela diminuição da produção de progesterona e estrogênio,
hormônios produzidos nos ovários.
Por isso, de 60% a 70% das mulheres apresentam sintomas do
climatério, que incluem mudanças de humor, taquicardia e calor excessivo.
Para evitar o desconforto, muitos médicos recomendam a
reposição hormonal. No entanto, ëste método é questionado, já que pode aumentar
o risco de câncer e de eventos tromboembólicos, como infarto e AVC (acidente
vascular cerebral) – e, agora, pode também estar associado à depressão.
Com base nos dados do sistema de saúde público da Dinamarca,
os pesquisadores analisaram todas as mulheres que tinham 45 anos entre 1º de
janeiro de 1995 e 31 de dezembro de 2017, desde que não tivessem tirado um dos
ovários ou tivessem tido câncer, seja em órgãos reprodutivos ou não.
As 825.238 voluntárias foram acompanhadas até dia 31 de
dezembro de 2018. Foram analisadas as prescrições de reposição hormonal só de
estrogênio ou de estrogênio associado à progesterona, administradas de forma
sistêmica – via oral ou por pomada na pele transdérmica e local (intravaginal
ou intrauterino).
Os diagnósticos de depressão foram identificados no Registro
Central de Pesquisa Psiquiátrica Dinamarquesa e no Registro Nacional de
Pacientes Dinamarquês, entre 1995 e 2018.
Durante o período analisado, um total de 189.821 mulheres
iniciaram terapia hormonal (23%) e 13.069 (1,6%) foram hospitalizadas por
depressão, o que representa uma incidência de 17,3 casos por 10.000
pessoas/ano.
As mulheres que usaram a terapia hormonal sistêmica iniciada
antes dos 50 anos tiveram um risco maior de um diagnóstico subsequente de
depressão. Sendo que o risco foi especialmente alto no ano em que foi começado
o tratamento tanto de estrogênio isolado, quanto de estrogênio combinado com
progestina – composto sintético com efeitos similares aos da progesterona.
Já a reposição administrada no local não foi associada ao
risco de depressão. Todavia, as chances de o uso de hormônios sintéticos
interferirem na saúde mental são ainda menores se a reposição é começada após
os 54 anos de idade.
"Esses achados sugerem que a TH [terapia hormonal]
administrada sistemicamente antes e durante a menopausa está associada a maior
risco de depressão, especialmente nos anos imediatamente após o início.
Enquanto a TH administrada localmente está associada a menor risco de depressão
para mulheres com 54 anos ou mais”, escreveram os autores na publicação.
Os pesquisadores admitem que o estudo tem algumas
limitações. Porém, “a análise autocontrolada mostrou que a taxa de depressão
era menor, especialmente antes da prescrição de TH, o que pode indicar que os
médicos de clínica geral são menos propensos a prescrever TH para mulheres com
risco de depressão. Por outro lado, os médicos que prescrevem a reposição
precisam ficar mais atentos ao aparecimento de sintomas depressivos entre os
pacientes a quem prescreveram TH, isso poderia introduzir viés de detecção.”