r7 -31/01/2022 09:53
O Teste do Olhinho, conhecido como teste do reflexo
vermelho, feito ainda na maternidade, até 72 horas de vida do bebê, é o
primeiro exame que ajuda na detecção precoce de doenças oculares que podem
afetar crianças.
Entre essas doenças está o retinoblastoma, um tipo raro de
tumor intraocular maligno primário, ou câncer no olho, de origem genética, mais
comum entre as crianças de até 5 anos de idade. Ele tem origem em células da
retina e pode afetar um olho (unilateral) ou os dois. A estimativa é que, por
ano, cerca de 6 mil crianças no mundo sejam afetadas por essa doença.
O alerta foi dado hoje (30), em nota conjunta, assinada pelo
Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) e pela Sociedade Brasileira de
Oftalmologia Pediátrica (SBOP). Ontem (29), o casal de jornalista Tiago Leifert
e Daiana Garbin anunciou que a filha Lua, de apenas 2 anos, tem a doença e
fizeram um alerta aos pais.
“Lamentamos o ocorrido e nos colocamos de forma solidária ao
lado desta família para ajudar no que for preciso. No entanto, nossas entidades
entendem que a discussão sobre o assunto, que cresceu nas últimas horas, deve
ser pautada por conhecimento fidedigno, com validade científica e relevante. Em
momentos assim, lacunas de informação podem abrir espaço para distorções que
impedem acesso à compreensão sobre como o retinoblastoma se manifesta, pode ser
diagnosticado e deve ser tratado”, ressaltou o presidente do CBO, Cristiano
Caixeta Umbelino.
Segundo ele, pais e responsáveis devem optar pelos cuidados
de médicos especializados, como oftalmologistas, uma vez que tratamentos como
'self-healing' (auto cura) ou prática de exercícios oculares, “não têm
comprovação científica e, portanto, não servem para curar o retinoblastoma ou
qualquer outra doença que afeta o aparelho da visão”, como glaucoma, catarata,
doenças retinianas, entre outras.
Na avaliação de Umbelino, essas abordagens podem retardar o início de tratamentos corretos, com chance de comprometerem parcial ou totalmente a visão e, inclusive, a vida do paciente, em caso de tumores.
Exames completos
O CBO e a SBOP recomendaram que o Teste do Olhinho deve ser
repetido pelo pediatra pelo menos três vezes ao ano, nos três primeiros anos de
vida da criança. Bebês de seis a 12 meses devem passar por um exame
oftalmológico completo e, posteriormente, entre 3 e 5 anos de idade, devem ser
submetidos a uma segunda avaliação semelhante.
A presidente da SBOP, Luísa Hopker, afirmou que os exames
oftalmológicos completos são fundamentais para detecção de condições que afetam
a saúde ocular das crianças.
“Em caso de suspeita, no consultório, o paciente passa por
exame oftalmológico com a pupila dilatada. Se houver necessidade, é realizado
outro teste, sob sedação, em centro cirúrgico. A ultrassonografia ocular deve
ser realizada e pode mostrar pontos brilhantes intralesionais consistentes com
cálcio. A tomografia computadorizada também pode mostrar as calcificações
quando a ultrassonografia não está disponível. A ressonância de crânio é
necessária para realizar o estadiamento do tumor”, explicou.
O tratamento para a retinoblastoma depende de vários
fatores, entre os quais, a localização e o tamanho do tumor, disseminação além
do olho e possibilidade de preservação da visão. Diferentes procedimentos podem
ser adotados, incluindo quimioterapia (intravenosa, intra-arterial, periocular
e intraocular), terapia focal e métodos cirúrgicos. Luísa informou que nas
últimas décadas, as técnicas de tratamento do retinoblastoma têm apresentado
avanços consideráveis, com taxas de cura superiores a 95%, uma vez adotado o
tratamento adequado.
Diagnóstico precoce
O diagnóstico precoce é muito importante, na avaliação dos
presidentes do CBO e da SBOP. A presidente da SBOP disse que o tratamento
terapêutico é individual, adaptado a cada caso e baseado em aspectos como
lateralidade, localização e tamanho do tumor primário, presença de metásteses e
prognóstico visual estimado.
Os pais e responsáveis devem estar atentos para alguns
sinais que podem indicar a presença do retinoblastoma, entre elas, uma
alteração do reflexo vermelho dos olhos, observada em fotografias e
caracterizada por um reflexo branco na pupila, chamado reflexo do olho de gato.
Essa mancha esbranquiçada é denominada leucocoria e pode impedir a passagem de
luz. Estrabismo também pode estar associado ao retinoblastoma.
De acordo com os especialistas, essa doença está associada a
uma anormalidade genética no cromossomo número 13. Apenas 10% dos pacientes têm
um membro da família com retinoblastoma e 40% manifestam uma forma genética
herdada do tumor, mesmo que ninguém mais na família tenha o problema. Na
maioria dos casos, em torno de 90%, o retinoblastoma aparece de repente, sem
nenhum evento associado e sem aviso prévio, não estando associado a fatores
externos dos pais, como fumar, beber etc.