estadao conteudo -27/04/2020 15:09
Os diretores da Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(Anvisa) discutem nesta terça-feira, 28, se liberam a aplicação de testes
rápidos de coronavírus em farmácias. Atualmente, testes rápidos são aplicados
em ambiente hospitalar e clínicas das redes pública e privada.
A proposta será levada pelo presidente-substituto da
agência, Antonio Barra Torres, médico e contra-almirante, tido como conselheiro
de Jair Bolsonaro para assuntos de saúde.
Segundo integrantes do governo, a cúpula do Ministério da
Saúde chegou a resistir à proposta, mas passou a apoiá-la recentemente. O novo
ministro da pasta, Nelson Teich, tem dito que melhorar o grau de informação
sobre a doença no Brasil é pilar de sua estratégia de resposta à pandemia, que
tem como um dos pontos a saída do distanciamento social, como defende
Bolsonaro.
O receio de autoridades de saúde, como da Organização
Mundial de Saúde (OMS), é que testes rápidos têm alto índice de "falso
negativo", se aplicados nos primeiros dias de sintomas da doença. Como o
jornal O Estado de S. Paulo revelou, exames doados ao governo pela
mineradora Vale podem errar 75% dos resultados negativos, segundo análise
encomendada pelo próprio Ministério da Saúde.
A expectativa de fontes do ministério de Teich é que a
Anvisa aceite a aplicação em farmácias, mas exigindo que o teste seja feito
apenas após alguns dias do surgimento de sintomas da doença.
A forte chance de falso negativo, nos primeiros dias,
deve-se à característica do exame, que detecta anticorpos para a doença. Essas
substâncias só surgem quando o corpo reage ao vírus, o que leva alguns dias.
Por isso, autoridades recomendam uso de testes do tipo "RT-PCR", mais
lento e caro, para garantir diagnóstico preciso para a covid-19.
Segundo integrantes do ministério, há forte pressão do
Palácio do Planalto para ampliar o número de testes no País. A Saúde tem
sinalizado que pretende aumentar o público-alvo para exames de diagnóstico
rápido.
No começo da crise, o Ministério da Saúde recomendava apenas
a aplicação de testes rápidos para quem atua na "linha de frente" do
combate à covid-19, como profissionais da saúde.
Em boletim epidemiológico publicado na última semana, no
entanto, o ministério afirma que deseja "progressivamente" incluir
idosos, portadores de condições de risco para complicações da covid-19 e a
população economicamente ativa na rotina de testagem. A ideia seria também aumentar
a "carteira" de curados e imunes à doença que poderiam retornar ao
trabalho, dizem integrantes do governo.