agencia brasil -19/09/2021 23:58
A capacidade de adaptação dos países às mudanças causadas
pelo aquecimento global pode acabar, caso as emissões de
gases de efeito estufa não sejam drasticamente reduzidos nesta década.
Segundo relatório da Chatham House, think tank (instituições
que se dedicam a produzir conhecimento sobre temas políticos, econômicos ou
científicos) britânica de pesquisa sobre o desenvolvimento internacional,
fundada em 1920, as mudanças podem ser irreversíveis entre 2040 e 2050.
O alerta está na Avaliação de Riscos das Mudanças Climáticas, documento
desenvolvido para subsidiar as tomadas de decisões dos chefes de Governo e
ministros antes da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de
2021 (COP26), marcada para ocorrer de 31 de outubro a 12 de novembro, em
Glasgow, na Escócia.
Para o pesquisador sênior do Programa de Meio Ambiente e
Sociedade da Chatham House, Daniel Quiggin, um dos autores do relatório, as
metas estabelecidas por muitos países para neutralizar as emissões de carbono e
a maior ambição com relação às metas nacionais de redução de gases de efeito
estufa são uma esperança. Embora, segundo ele, não passem de promessas.
“Muitos países não têm políticas, regulamentações,
legislação, incentivos e mecanismos de mercado proporcionais para realmente
cumprir essas metas. Além disso, os NDCs [da sigla em inglês para Contribuição
Nacionalmente Determinada] revisados globalmente ainda não fornecem uma boa
chance de evitar o aquecimento em 2ºC. Devemos lembrar que muitos cientistas do
clima estão preocupados que, além dos 2ºC, uma mudança climática descontrolada
possa ser iniciada”, alerta.
As metas nacionais foram determinadas a partir do Acordo de Paris, tratado negociado durante a COP21, em
2015, no âmbito da Convenção-Quadro
das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima. O acordo rege a redução de
emissão de gases de efeito estufa a partir de 2020, para tentar manter o
aquecimento global abaixo de 2ºC até o fim do século, num contexto de
desenvolvimento sustentável.
Quiggin alerta que as metas definidas ainda não garantem a
neutralidade do carbono.
“O balanço zero líquido das emissões depende de tecnologias
de emissão negativa, que atualmente não são comprovadas empiricamente em escala
comercial. Em resumo, as metas que os países buscam estão se movendo na direção
certa, mas ainda não conseguem evitar a devastadora mudança climática. E as
políticas de apoio às metas existentes são insuficientes para atingir essas
metas”, disse.
Ondas de calor
A avaliação, lançada essa semana em Londres, aponta que a falta de medidas
concretas por parte dos governos pode levar a temperaturas extremas a partir da
década de 2030, causando 10 milhões de mortes ao ar livre. Ondas de calor
anuais podem afetar 70% da população mundial e 700 milhões de pessoas estarão
expostas a secas severas e prolongadas todos os anos.
O documento também alerta para a redução de 30% na produção
agrícola até 2050 e que 400 milhões de pessoas não poderão mais trabalhar ao ar
livre por causa do aquecimento global. Para 2040, há uma expectativa de perda
de rendimento de pelo menos 10% nos quatro principais países produtores de
milho: Estados Unidos, China, Brasil e Argentina.
Na virada do próximo século, um aumento de 1 metro no nível
do mar pode aumentar a probabilidade das grandes inundações em cerca de 40
vezes para Xangai, 200 vezes para Nova York e mil vezes para Calcutá.
Segundo Quinggin, os atuais esforços globais para conter o
aquecimento dão ao mundo menos de 5% de chance de manter o aquecimento abaixo
de 2°C.
“Sem ações radicais em todos os setores, mas especialmente
dos grandes emissores, temperaturas extremas, quedas dramáticas nos rendimentos
agrícolas e secas severas prolongadas provavelmente resultarão em milhões de
mortes adicionais na próxima década. Ainda há uma janela de oportunidade real
(embora ela esteja se fechando) para uma ambição muito maior de todos os
governos, para evitar os impactos mais catastróficos das mudanças climáticas”.
A avaliação da Chatham House indica que o ritmo atual dos
esforços de descarbonização pode segurar o aquecimento até 2100 em 2,7°C, mas a
chance de a temperatura média do planeta subir 3,5°C é de 10%. O pesquisador
explica que as restrições de mobilidade ocorridas por causa da pandemia da covid-19
contribuíram apenas momentaneamente para a redução das emissões.
“Nós consideramos isso, mas dado que as emissões se
recuperaram muito rapidamente, e agora estão subindo novamente, o breve alívio
oferecido pelos bloqueios nas emissões foi insuficiente para mudar nossa
avaliação do ritmo e gravidade das mudanças climáticas”, explica.
A Avaliação de Riscos das Mudanças Climáticas é o primeiro
de uma série de relatórios de pesquisa aprofundados que a Chatham House vai
lançar até a COP26, analisando as consequências do aquecimento do planeta e
indicando as ações que precisam ser tomadas para evitar o desastre climático. O
trabalho é feito por cientistas e analistas políticos no Reino Unido e na
China.