Agencia Brasil -06/02/2023 17:41
O Brasil contabiliza, atualmente, 546 mil médicos ativos, uma proporção
de 2,56 profissionais por mil habitantes. O número, segundo registros dos
conselhos regionais de Medicina, mais que dobrou nos últimos 20 anos. Para o
Conselho Federal de Medicina (CFM), o crescimento acelerado do número de
escolas médicas e de vagas na última década levou a um aumento sem precedentes
no número de profissionais no país.
“Mantendo-se o mesmo ritmo de crescimento da população e de escolas
médicas, dentro de cinco anos, em 2028, o país contará com 3,63 médicos por mil
habitantes, índice que supera a densidade médica registrada, por exemplo, na
média dos 38 países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento (OCDE)”,
avaliou o conselho.
O atual índice brasileiro de 2,56 médicos por mil habitantes já é
compatível com o de países como Estados Unidos (2,6), Canadá (2,7), Japão (2,5)
e Coreia do Sul (2,5), além de ser maior que o do Chile (2,2), da China (2) e
da África do Sul (0,8). Com o incremento esperado, em cinco anos, o Brasil deve
ultrapassar Nova Zelândia (3,4), Irlanda (3,3), Israel (3,3), Finlândia (3,2),
França (3,2), Bélgica (3,2) e Reino Unido (3).
Segundo o CFM, desde 2010, a população brasileira passou de 190,7
milhões para 214 milhões, enquanto a proporção de médicos por mil habitantes
foi de 1,76 para 2,56. No mesmo período, foram abertas mais de 200 escolas de
medicina. A cada ano, cerca de 28 mil médicos se somam ao mercado. Com uma vida
profissional longa – cerca de 43 anos –, alguns estudos estimam que o país deve
alcançar quase 837 mil profissionais em cinco anos.
Perfil
Dados da plataforma Demografia Médica no Brasil 2023, lançada hoje (6)
pelo conselho, mostram que os homens representam 51% do contingente ativo
(277,8 mil profissionais) e as mulheres, 49% (267,7 mil). A evolução dos
indicadores indica que, em poucos anos, as mulheres sejam maioria. Em 1990,
elas eram apenas 30% da força de trabalho médica, passando para 39,9% em 2010,
e chegando, agora, a quase metade.
Os números indicam ainda que a média geral de idade dos médicos em
atividade no Brasil vem caindo nos últimos anos. Em 2015, a média era 45,7
anos. Agora, está em 44,9 anos. O fenômeno é resultado do crescimento do número
de cursos e vagas de graduação em medicina e, consequentemente, da entrada de
novos médicos no mercado de trabalho.
Para os homens, a idade média, em 2023, é 49 anos. Para as mulheres,
42,5 anos. Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul são os estados que têm idade
média mais alta entre a população médica: 50,3 anos e 47,8 anos,
respectivamente. Já os estados com profissionais mais jovens são Tocantins e
Rondônia, com média de idade 41 anos.
Distribuição
Para o CFM, o Brasil possui médicos ativos, com registro nos CRMs, em
número absoluto suficiente para atender às necessidades da população. Mas,
apesar do significativo contingente e um dos maiores do mundo, ainda há um
cenário de desigualdade na distribuição e fixação desses profissionais e
também no acesso a eles.
Os dados apontam que a maioria dos médicos permanece concentrada no Sul
e no Sudeste, nas capitais e nos grandes municípios. Nas 49 cidades brasileiras
com mais de 500 mil habitantes e que juntas concentram 32% da população
brasileira, estão 62% dos médicos do país. Já nos 4.890 municípios com até 50
mil habitantes, onde vivem 65,8 milhões de pessoas, estão pouco mais de 8% dos
profissionais.
Apesar de juntas responderem por 24% da população do país, as 27
capitais brasileiras reúnem 54% dos médicos. Por outro lado, vivem no interior
76% da população e 46% dos médicos ativos no país. Os números mostram ainda que
as capitais têm uma média de 6,21 médicos por mil habitantes contra um índice
de 1,72 no interior.
As diferenças também ocorrem entre as regiões brasileiras. No Norte,
vivem 8,8% da população brasileira e 4,6% dos médicos do país. O Nordeste
abriga 27% dos brasileiros e 18,5% dos médicos. O Sudeste responde por 42% da
população e 53% dos profissionais. O Sul e o Centro-Oeste abrigam,
respectivamente, 14,3% e 7,8% da população e têm 15,7% e 8,4% dos médicos do
país.
Análise
Para o presidente do CFM, José Hiran Gallo, o país conta com diversas
escolas de medicina “sem a menor condição de funcionamento”. Ele citou o estado
de Rondônia, com oito faculdades de medicina, cada uma formando entre 100
e 150 profissionais por ano. “É um número exacerbado de escolas médicas no
Brasil", disse, ao citar instituições sem hospital-escola ou hospital de
ensino. "Fica muito difícil esse médico sair com uma boa formação.”
“Não adianta colocarmos médicos bem formados nesses 5,55 mil municípios
do Brasil sem ter infraestrutura de trabalho, leitos, equipamentos,
medicamentos, acesso a exames e apoio de equipe multiprofissional”, disse. “O
CFM não aceita dois tipos de medicina: uma para o rico e outra para o pobre”,
completou, ao confirmar o que chamou de excesso de profissionais no país.
O coordenador do Sistema de Acreditação de Escolas Médicas do CFM,
Donizetti Giamberardino, defende a elaboração de políticas de fixação do
profissional de saúde em cidades de difícil provimento. “Os documentos sempre
demonstraram que, mesmo formando mais médicos anualmente, a má distribuição
persistiu. Temos mais médicos nas capitais e muitos municípios que não têm
médicos.”
“Precisamos de um financiamento adequado, de uma avaliação adequada de
recursos, de uma política de recursos humanos de fixação do médico e de outros
profissionais em cidades de difícil provimento”, disse, ao defender uma
política de integração de rede. “Não podemos confundir a desejada
descentralização com a municipalização de sistemas”, concluiu.
Plataforma
A plataforma Demografia Médica no Brasil
2023 constitui uma ferramenta dinâmica, intuitiva e online que
possibilita aos usuários conhecer os números mais recentes sobre a distribuição
e o perfil da força de trabalho médica no país. A versão disponibilizada pelo
CFM apresenta dados de 31 de dezembro de 2022. Em seis meses, uma nova carga
deve ser implementada.
A proposta é democratizar o acesso a informações sobre o perfil de
médicos no Brasil. Com poucos cliques, é possível saber quantos profissionais
em atividade há no país, incluindo recortes por estado, por capital e no
interior de cada unidade federativa, além da proporção de médicos por habitante.
Também é possível saber detalhes como faixa etária, sexo e tipo de
formação dos profissionais de saúde. Os dados, de acordo com o CFM, contam com
atualização online, e os painéis contemplam os seguintes eixos e
informações: médicos no Brasil; evolução populacional; indicadores de evolução;
distribuição geográfica; ranking de estados e capitais; e
indicadores internacionais.