r7 -09/08/2021 18:05
O IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas),
órgão da ONU, publicou, nesta segunda-feira (9), um novo e importante relatório sobre o aquecimento global que aponta como a
temperatura do planeta está avançando mais rapidamente do que o esperado — em
grande parte, devido à ação humana.
Em um cenário pessimista, isto é, se a população mundial aumentar
ou mantiver a emissão de combustíveis no mesmo patamar dos dias atuais, até
2100, a temperatura global poderá a aumentar, em média, 4,4º C. Já se as
emissões forem reduzidas, estima-se que esse valor seja de 1,5º C.
Segundo o professor e pesquisador do Departamento de
Geografia e do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal
do Paraná (UFPR), Wilson Roseghini, as consequências do aumento da temperatura
global para o Brasil são diversas, independentemente do cenário projetado pelo
IPCC. Ele destaca um aumento da temperatura em todas as regiões do país e uma
diminuição das chuvas nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
"As projeções apontam que haverá uma diminuição das
chuvas na Caatinga, no Cerrado, na Amazônia, no Pantanal e em toda a região
Centro-Oeste, que é a maior produtora de grãos do Brasil. Apenas na região Sul
e parte da Sudeste deve haver um aumento das chuvas, que ocorrerão de forma mal
distribuída e marcada por eventos extremos", afirma.
Roseghini ressalta ainda que, apesar do que muitos podem
pensar, o aumento da temperatura global também provoca eventos curtos e
pontuais de frio, como a massa de ar polar que atingiu as regiões Sul e Sudeste
do país na última semana. A tendência é que brasileiros e pessoas de todo o
mundo enfrentem invernos cada vez mais quentes, intercalados com dois ou três
dias de frio intenso.
O fenômeno ocorre, explica o professor, devido às trocas de
energia que a Terra faz naturalmente, entre diversas regiões do planeta, para
não manter a temperatura global nem muito alta nem muito baixa. Se o contraste
entre as temperaturas for muito grande, no entanto, essas trocas se tornam mais
extremas e este é o fator que acaba desencadeando tais eventos.
"Na Antártica, por exemplo, se as temperaturas estiverem
dentro da média, ou seja, muito frio, e no Brasil, mesmo no inverno, as
temperaturas estiverem a 20º C — acima do que deveria estar —, na hora em que
houver essa troca de energia, ela vai ocorrer de forma muito mais intensa. Em
outras palavras, a Antártica vai trazer uma massa de ar frio muito mais gelada
para tentar compensar o aumento de temperatura que houve aqui", afirma.
Aumento do nível do mar
Outra mudança destacada por Roseghini como consequência do
aquecimento global é o aumento do nível do mar, que já vem sendo observado no
mundo todo, inclusive no Brasil. O fenômeno ocorre sobretudo devido ao
derretimento das calotas polares e geleiras que se encontram sob áreas
continentais, como a Antártica e a Groelândia.
Apesar de algumas regiões do planeta estarem registrando um
recuo do mar sobre as regiões costeiras — fenômeno que às características de
formação rochosa de cada lugar —, a tendência é que o mar avance na maior parte
do mundo. No Brasil, isso já vem sendo notado, com bastante ênfase, na cidade
litorânea de Balneário Camboriú, em Santa Catarina.
"A prefeitura de Balneário Camboriú está fazendo uma
grande obra de drenagem e revitalização da orla porque já houve muitos avanços
do mar naquela região e a praia está se perdendo. Para se ter uma ideia, há
lugares da faixa do litoral de Santa Catarina em que o mar já está alcançando o
calçadão", afirma.
"Precisamos pensar nas consequências de nossas ações
porque elas estão, de fato, tendo um impacto muito negativo sobre o planeta. O
Brasil tem uma dependência muito grande de combustíveis fósseis para a
movimentação da nossa frota e vem registrando os maiores índices de
desmatamento em muitos anos", completa.
Veja o vídeo> https://noticias.r7.com/tecnologia-e-ciencia/entenda-como-o-aquecimento-global-afeta-as-regioes-do-brasil-09082021