r7 -12/01/2023 07:23
Um simples exame de sangue pode ser, em um futuro próximo,
capaz de diagnosticar uma forma hereditária da doença de Alzheimer dez anos antes de os primeiros sintomas
aparecerem. A técnica, baseada em biomarcadores, foi desenvolvida por
pesquisadores do Karolinska Institutet, na Suécia.
Em um artigo publicado na revista Brain, os cientistas
detalham como a GFAP (proteína glial fibrilar ácida) reflete mudanças no
cérebro devido à doença de Alzheimer, mas que ocorrem antes que seja possível
detectar o acúmulo de outra proteína mais conhecida, a tau.
"No futuro, [o método] pode ser usado como um
biomarcador não invasivo para a ativação precoce de células imunes, como
astrócitos, no sistema nervoso central, o que pode ser valioso para o
desenvolvimento de novos medicamentos e para o diagnóstico de doenças
cognitivas", afirma em comunicado a primeira autora do estudo, Charlotte
Johansson, do Departamento de Neurobiologia, Ciências do Cuidado e Sociedade do
Karolinska Institutet.
A forma estudada que pode ter o diagnóstico precoce é rara e
representa menos de 1% de todos os casos de Alzheimer, mas ela ocorre em
indivíduos com pais que tenham uma mutação genética que aumenta em 50% o risco
de desenvolver a doença.
Os pesquisadores analisaram amostras sanguíneas de 33
portadores da mutação e outros 42 que não tinham a predisposição herdada, entre
1994 e 2018.
“A primeira mudança que observamos foi um aumento na GFAP
aproximadamente dez anos antes dos primeiros sintomas da doença”, diz a última
autora do estudo, Caroline Graff, professora do Departamento de Neurobiologia,
Ciências e Sociedade do Cuidado, Karolinska Institutet.
Ela acrescenta que, em seguida, houve aumento das
concentrações de P-tau181 e, posteriormente, NfL (proteína leve de
neurofilamento), "que já sabemos estar diretamente associada à extensão do
dano neuronal no cérebro de [pacientes com] Alzheimer".
Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), atualmente 55
milhões de pessoas vivem com demência em todo o planeta, das quais entre 60% e
70% têm Alzheimer.
Com o envelhecimento da população, estima-se que a demência
poderá atingir 78 milhões de pessoas daqui a oito anos e 139 milhões até 2050.
Diagnosticar precocemente a doença é um desafio que
cientistas tentam resolver há décadas. Isto porque, quando identificado cedo,
há formas de fazer com que a doença progrida mais lentamente, garantindo
qualidade de vida ao paciente.
Durante a fase inicial e até moderada do Alzheimer é comum
que os pacientes se recordem de fatos do passado e das pessoas do convívio
social.
Somente na fase mais avançada é que células da região
cortical do cérebro, que armazena memórias antigas, começam a ser afetadas, o
que faz com que o indivíduo não reconheça mais familiares e amigos.
Outros sinais iniciais incluem mudanças no humor ou personalidade,
afastamento de amigos e familiares, alterações visuais (problemas para entender
imagens) e dificuldades na comunicação escrita ou falada.