estadao -23/05/2021 23:26
Pessoas com comorbidades relatam dúvidas, falta de
informação e dificuldades para receber a vacina contra a covid-19 em diferentes
Estados do país. Um dos motivos é a divergência de requisitos adotados pelas
prefeituras, que criaram exigências adicionais às indicações do Plano Nacional
de Imunização (PNI).
Nas redes sociais de prefeituras, governos estaduais e
órgãos públicos, milhares de comentários com dúvidas sobre o tema se
multiplicam. A população questiona sobre os documentos necessários, doenças
incluídas, tipos de hipertensão e asma considerados e uma infinidade de outros
pontos. "Está uma falta de informação total, ninguém sabe de nada",
critica o mecânico aeronáutico Luciano Corrêa de Souza, de 46 anos.
De São Carlos, no interior de São Paulo, ele teve a primeira
tentativa de tomar a vacina negada porque o documento enviado pelo médico não
trazia a palavra "imunossuprimido" e o nome dos remédios que toma.
Antes de ir ao posto de imunização, ele já havia anexado
cópias de documentos, como identidade e comprovante de residência, no site
municipal. Ao chegar, teve novamente os papéis conferidos, recebendo a negativa
após duas horas de espera. "Deveriam saber que transplantado é
imunossuprimido."
O comprovante trazia a confirmação de que Luciano tem um rim
transplantado e toma medicamentos diversos diariamente, o que o configura como
uma pessoa com imunodepressão e, portanto, parte do grupo prioritário da
vacinação.
"A carta do médico tinha dados, data, tudo,
recomendando tomar a vacina da covid e da gripe", comenta. "Um amigo
que também é transplantado (e mora na mesma cidade) só levou uma carta e foi
vacinado. Cada lugar faz o que quer, não tem orientação."
Comprovante e
cadastro
Para as comorbidades, segundo o PNI, bastaria a apresentação
de "qualquer comprovante que demonstre pertencer a um grupo de risco
(exames, receitas, relatório médico, prescrição médica etc.), além de
"cadastros já existentes dentro das unidades de saúde".
A maquiadora Luana Calvelli, de 32 anos, enfrentou
dificuldades já na comprovação, pois não havia agenda disponível para
atendimento médico nas unidades de referência da região em que vive, no Rio de
Janeiro. Por estar desempregada, ela não tinha como procurar um atendimento
particular.
"Para obesidade, basta um profissional da área da saúde
para medir sua altura, ver quanto você pesa e calcular o IMC. Não tem como
forjar um laudo de obesidade, basta olhar para a pessoa. Isso poderia ser feito
no ato da vacinação", defende ela. A obesidade é diagnosticada
exclusivamente com um cálculo simples do Índice de Massa Corporal (IMC), feito
com base nas medidas de peso e altura.
A maquiadora conta que a mãe, que é diarista, comentou sobre
a situação com uma cliente, para quem faz faxina regularmente. A mulher pediu à
nora, que é médica, para atender Luana de forma gratuita, a fim de constatar o
IMC e emitir o laudo. "Se não fosse por isso, não tomaria a vacina
agora."
E a comprovação é distinta em outros locais. Em Manaus, por
exemplo, basta apresentar um comprovante de IMC com valor igual ou maior que 40
assinado por um profissional de saúde com nível superior, como nutricionista,
farmacêutico, médico, enfermeiro e educador físico. No Rio Grande do Sul, por
sua vez, a orientação é apresentar uma declaração de próprio punho, mas parte
dos municípios gaúchos também faz exigências adicionais.
Imunização negada
Em Fortaleza, por exemplo, a pensionista Maria do Carmo
Freitas, de 59 anos, teve a imunização negada porque a equipe não aceitou
exames datados de agosto passado, embora a paciente tenha cardiopatia, estente
(prótese interna que evita o entupimento de artérias) e ponte de safena. Em
nota, a prefeitura afirmou que cobra a apresentação de "atestado, relatório
ou prescrição médica indicando o motivo para a aplicação da vacina, com
validade de até um ano".
Negacionismo. Outra dificuldade relatada por pacientes é a
recusa de parte dos profissionais de saúde por negacionismo e ideologias. A
dona de casa Marina Coffani, de 38 anos, teve o pedido de comprovante negado
pelo médico que a acompanha há anos, o qual costuma afirmar que as pessoas que
tomam as vacinas contra a covid-19 são "cobaias". "Aqui, no Rio
Grande do Sul, é complicado
"