g1 -12/03/2022 17:54
O brasileiro vai pagar mais caro pelo pãozinho francês e
massas nos próximos meses. Após a invasão da Ucrânia pela Rússia, o preço do trigo
disparou no mercado internacional e, em breve, começará a ser repassado a seus
derivados, avaliam economistas.
Os dois países respondem, em média, por 30% de todo o cereal
comercializado no mundo e, com a guerra, o valor do produto na Bolsa de Chicago
(EUA) chegou a subir quase 40% entre 23 de fevereiro e 7 de março, diz o
especialista de trigo da consultoria Safras & Mercado, Élcio Bento.
A alta no mercado externo mexe com os preços de todos os
países, inclusive com os da Argentina, de onde vem
85% das importações brasileiras de trigo, segundo a Associação Brasileira da
Indústria do Trigo (Abitrigo). Dois terços do cereal consumido no país vem
outros países.
"O reflexo [nos preços dos pães e massas] tende a ser
imediato. O trigo que está sendo usado, neste momento, para fazer farinha foi
comprado por um valor menor. Mas, se você pensar como empresa, ao saber que a
matéria-prima vai aumentar, você começa a repassar preço rapidamente", diz
Bento.
Segundo ele, os estoques de trigo mais barato devem
acabar, aproximadamente, em abril, mês em que, para o economista, o
aumento de preços deve começar a ser sentido no bolso do consumidor.
A farinha de trigo já acumula alta de quase 15% em 12 meses
até fevereiro, segundo dados do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA),
divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na
sexta feira (11).
O pão francês, por sua vez, subiu menos (7%), enquanto o
macarrão (12%) e as massas semipreparadas (10%) avançaram mais.
Lucilio Alves, professor da Faculdade de Agricultura da USP,
lembra que não é somente o trigo que tende o pressionar o valor da farinha e
seus derivados.
"O trigo representa menos de 50% do custo da farinha e,
quando esta vai para o atacado e varejo, novos custos são incorporados, como
transporte e tributação", diz ele.
Por que o preço do trigo disparou?
Para Alves, a disparada dos preços é explicada pela
importância da Rússia e Ucrânia no mercado de
trigo e as incertezas sobre até quando o conflito vai se estender.
Apesar do preço do cereal ter se arrefecido nos últimos
dias, o economista avalia que a tendência é que o valor do cereal continue
pressionado.
A Rússia é
o principal exportador de trigo do mundo, enquanto a Ucrânia o 4º maior. É
previsto que os dois países contribuam com 52 milhões de toneladas de um total
de 203 milhões toneladas exportadas na safra 2021/22, diz Alves.
"Temos uma restrição no transporte marítimo. Todos os
portos da Ucrânia estão
paralisados. Já na Rússia,
temos alguns em funcionamento. Diante deste cenário, países que compram trigo
da Rússia e
da Ucrânia, como
nações africanas, parte do Oriente Médio e Ásia passaram a demandar trigo de
outros países, como os da América do Norte e Sul", diz Alves.
Por causa desse redirecionamento de mercado, o Brasil tende
a ganhar novos concorrentes na compra de trigo argentino. "Portanto, novos
contratos de importação certamente virão com valores superiores".