r7 -04/12/2020 14:06
Um vídeo que está circulando pelo Whatsapp com uma série de
notícias falsas em relação à vacina da covid-19, mais especialmente à feita a
partir de RNA mensageiro, uma tecnologia considerada inovadora utilizada nos
imunizantes da Pfizer e da Moderna, tem chocado o mundo.
Em 4 minutos, a ginecologista e obstetra norte-americana
Chistiane Northrup destila teorias infundadas que desqualificam a vacina que
vão desde que ela seria capaz de alterar o DNA, criando quimeras (figura
mitológica resultado da combinação de diferentes animais), até a instalação de
um microship capaz de permitir que as pessoas sejam rastreadas.
Três infectologistas entrevistados pelo R7 afirmam
que todas as informações divulgadas no vídeo são falsas e não contêm nenhum
embasamento científico. "Fazem parte de um movimento antivacina e de
teorias da conspiração", afirma a infectologista Lina Paola
Rodrigues, da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo.
Vale lembrar que existe uma expectativa de que a vacina da
Pfizer comece a ser aplicada nos Estados Unidos nos dias 11 e 12 deste mês,
após a análise do FDA (Food and Drug Administration), agência de regulação de
medicamentos dos EUA, prevista para o dia 10.
DNA alterado
O vídeo com fake news afirma que o RNA mensageiro utilizado
como base em algumas vacinas da covid-19 seria capaz de alterar o DNA. O
infectologista Carlos Lazar, professor da disciplina de moléstias
infecciosas na PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), explica
que isso é impossível. "A vacina contra a covid-19 não altera o DNA
humano. O RNA mensageiro é um fragmento do material genético do novo coronavírus
que não altera em nada o DNA da célula humana", afirma.
Lina ressalta que o RNA mensageiro não tem contato com o DNA
humano. Ele é uma molécula produzida em laboratório que simula o material
genético do SARS-CoV-2, mas é incapaz de causar doença, apenas ativa o sistema
imunológico ao ser inserida e o faz produzir anticorpos contra esse vírus
específico.
"Ele é reconhecido por uma célula que, como se fosse o
zelador de um predio, pega a informação e leva para uma célula mais
especializada, que cria uma resposta imune complexa", explica.
Metais pesados fazem pessoa virar "antena"
Outra afirmação considerada absurda pelos infectologistas
divulgada no vídeo é que "metais tóxicos contidos na vacina
transformam a pessoa em uma antena de 5G". Lazar explica as vacinas não
contêm metais pesados ou tóxicos. "Anteriormente, havia metais como
mercúrio, mas em quantidades mínimas para conservar a vacina, para proteger o
produto vacinal. Hoje não há necessidade porque são mais purificadas",
afirma.
DNA não humano transforma pessoas em quimera
A informação falsa de que o uso de DNA não humano
transformaria pessoas em quimeras é totalmente fantasiosa. A infectologista
explica que não existe essa tecnologia de juntar DNA humano com o DNA de um
animal, gerando uma terceira criatura. "O que existe é a clonagem de um
mesmo animal. A ciência ainda não conseguiu fazer uma quimera", diz.
Tinta injetada que sob a luz permite ver quem foi vacina
Lina questiona para que serviria essa suposta tinta injetada
para distinguir quem foi vacinado ou não. Ela ressalta que não existe a
possibilidade de isso acontecer por meio de uma vacina. "Isso é uma teoria
da conspiração, não tem fundamento".
Roubo de dados biométricos
Outro argumento da médica norte-americana que está
espalhando fake news é que a vacina roubaria dados biométricos ao ser injetada.
Dados biométricos são características como peso, altura, cor dos olhos, explica
a infectologista. "Esses dados servem para fabricante de roupas não
fabricante de vacina", frisa. Não há como uma vacina "roubar"
dados ao ser injetada nem introduzir microchip com esse fim.
A fake news ainda afirma que a pandemia é uma cortina de
fumaça para um plano de implante de microchips usados para rastrear as pessoas
criado por Bill Gates, cofundador da Microsoft, Bill Gates, que já afirmou à
imprensa que a teoria é falsa.
Conectar pessoas à criptomoeda
Os dados roubados, segundo a médica das fake news, seriam
usados para conectar as pessoas à criptomoeda. "Não faz sentido. Vai fazer
o que com isso?" questiona Lina. "Trata-se de uma ideia sem pé nem
cabeça, uma teoria da conspiração que faz parte de um movimento antivacina para
boicotar o uso da vacina contra a covid-19 de forma massiva",
afirma.
"É um anticientificismo total. A quantidade de bobagens
ditas é criminosa. Acho que isso não é inofensivo, é danoso, traz desconfiança
das vacinas, as pessoas deixam de se vacinar, isso repercute na saúde pública,
na saúde global. Não é só um desserviço, é um crime contra a saúde
pública", enfatiza o infectologista Renato Kfouri, primeiro-secretário da
SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações).