r7 -26/06/2021 17:30
Identificada pela primeira vez na Índia, a variante
Delta do novo coronavírus está avançando por todo o planeta e preocupa
especialistas. Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), a cepa circula por
92 países. No Brasil, o Ministério da Saúde informa que, até o momento, 11
casos já foram detectados, com a confirmação de uma morte.
O óbito aconteceu no fim de abril, mas só foi divulgado nesta
sexta-feira (25). Apenas a Região Norte continua sem incidência da variante. Os
primeiros registros da cepa no País foram confirmados em maio entre os
tripulantes do navio MV Shandong da Zhi, que atracou em São Luís. No momento, 6
dos 11 casos listados pela pasta federal são de tripulantes da embarcação.
Há ainda dois casos de Apucarana (Paraná), e ocorrências
isoladas nos municípios de Campos dos Goytacazes (Rio), Juiz de Fora (Minas) e
Goiânia (Goiás). O primeiro caso da Delta no Paraná foi anunciado no início do
mês. Uma senhora de 71 anos, que apresentou sintomas, foi hospitalizada e
sobreviveu.
O segundo caso confirmado no Estado foi de uma mulher que
tinha 42 anos, que acabou morrendo. Ela apresentou sintomas dois dias após
chegar ao Brasil. Oito dias depois, foi internada. O quadro piorou e, no
terceiro dia de hospitalização, morreu após uma cesária de emergência no dia 18
de abril, segundo informações divulgadas pelo Ministério da Saúde.
O recém-nascido prematuro testou negativo para covid-19 e se
encontra saudável, após dois meses internado. A Secretaria de Saúde do Estado
não considera que há transmissão comunitária da Delta na região e informa que
aguarda a análise de outras amostras também enviadas para o programa de
vigilância realizado em parceria com a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz).
Goiânia, por outro lado, é a única cidade do País a
constatar transmissão comunitária da cepa. Segundo a Secretaria Municipal de
Saúde, o caso da variante Delta foi detectado em um estudo feito em parceria com
a Universidade Federal de Goiás, que testou 62 pessoas. A cepa foi identificada
em uma jovem com sintomas leves e sem histórico de viagem.
O município informa que outros casos de covid-19 foram
confirmados após uma busca ativa da Vigilância Sanitária em contatos próximos
dela. Apesar disso, como essas pessoas não eram participantes do estudo, não é
possível afirmar que também sejam infecções pela Delta.
Tanto no primeiro positivo registrado no Paraná quanto no
caso de Goiás, os pacientes não eram considerados suspeitos de infecção pela
variante e foram localizados de maneira aleatória por estudos locais de
monitoramento genômico. Mas o diretor da Fiocruz São Paulo, Rodrigo Stabeli,
também consultor da OMS para genômica, considera que o monitoramento ainda é
"ruim".
"Espero que um dos legados dessa pandemia é reforçar a
vigilância em saúde no Brasil, principalmente a epidemiológica, que antes era
vista como uma ciência e não como um ato de saúde pública. É ela quem consegue
prever e planejar as ações que vão dar conta de um surto",
afirma Stabeli.
De acordo com o especialista, apesar de ser um dos líderes
da prática na América Latina, o Brasil ainda está longe de outros lugares no
que diz respeito a essa atividade. "Fazemos menos de 1% do que os Estados
Unidos fazem, por exemplo." Essa ausência de dados acarreta em lacunas de
informação. "Nós podemos ter essa variante já circulando. Por isso,
precisamos incentivar a vacinação e também o uso de máscaras. A máscara previne
qualquer variante, seja Gama, Delta ou Alfa", explica.
Rastreio
Na maior parte do Brasil, as ações para contenção e
prevenção da covid-19 são universais para todas as variantes e abrangem
estratégias de isolamento social, testagem, incentivo à vacinação e aos
protocolos de proteção, como o uso de máscaras. Em alguns locais, porém, há
também a realização de barreiras sanitárias, controladas, em sua maioria, por
municípios e reforço nas ações de monitoramento genômico.
No Maranhão, por exemplo, as barreiras estão localizadas nas
principais portas de entrada da capital São Luís e de Imperatriz segunda maior
cidade. Apesar do caso dos seis tripulantes estrangeiros contaminados com a
nova cepa, o Estado não registra episódios locais confirmados da variante.
Em razão da identificação da cepa e o risco iminente de
transmissão local, o Ministério da Saúde antecipou o envio de 300 mil doses de
vacina contra covid-19 para os municípios de São Luís, São José de Ribamar,
Paço do Lumiar e Raposa.
As barreiras sanitárias também estão presentes em Manaus, no
Amazonas, e em alguns municípios do Espírito Santo. Além de cidades,
principalmente fronteiriças, do Pará e de Roraima - que não apresentam casos da
variante Delta.
Desde o início de junho, o Rio intensificou o monitoramento
de passageiros originários da Índia que chegam aos Aeroportos Internacional Tom
Jobim (Galeão) e Santos Dumont. Na cidade de São Paulo, a Secretaria Municipal
de Saúde implementou barreiras em terminais rodoviários e no Aeroporto de
Congonhas no fim de maio. Há triagem de passageiros sintomáticos, com quadro de
síndrome gripal, para investigação clínica e laboratorial, e recomendações de
isolamento para casos suspeitos.