Hugo Leonardo: Você participou de algum trabalho com seu pai?
Mário Celso Lopes: Desde menino acompanhava meu pai depois da escola, quando diariamente, de bicicleta, levava a marmita pra ele na obra. Enquanto ele almoçava, eu ia assentar pregos nos tacos que serviam de piso para as casas boas da época. Participar disso ficou no meu sangue e a partir do momento em que pude fazer alguma coisa, comecei a fazer. Lembro-me de ainda menino, solteiro, reformando a casa da minha mãe. Eu construí a minha primeira casa, aliás só me casei quando a casa estava pronta, mobiliada e com a primeira compra feita. De lá para cá eu já fiz inúmeras casas e muitas construções grandes. Por onde eu passo, deixo algo construído então está no sangue, é o sangue de pedreiro.
Hugo Leonardo: Foi um bom tempo então?
Mário Celso Lopes: Outra lembrança viva que tenho da infância ali no Bosque era a convivência com os macacos que andavam soltos por lá. Era uma convivência com a natureza, coisa que prezo até hoje. Meu avô, pai da minha mãe, “Seo” Gilberto, que era um italiano trabalhador, era um carpinteiro e trabalhava em conjunto com o meu pai, Mário Lopes. Meu pai fazia as casas e meu avô a carpintaria delas nos telhados. Meu avô foi fazer umas “reservinhas” e aí abriu um empório. Foi lá que vi pela primeira vez televisão, no “Empório Estrela”. Via lá, naquele chuviscado, a programação da TV Tupi onde passava o programa com o Sílvio Santos. No passar dos anos, meu pai também conseguiu montar um empório lá na Vila Passarelli, que era duas quadras acima, na antiga Rua Sergipe, que hoje é Rua Alexandre Salomão. O empório do meu pai chamava-se Empório 11 de Julho, em homenagem ao aniversário da cidade. Aos 10 anos de idade, em 1965 eu cuidava do empório que tinha a minha mãe na frente.
Eu era um menino, mas minha mãe me pôs a trabalhar. Tínhamos um bom movimento por conta dos funcionários da SANBRA (Sociedade Algodoeira do Noroeste Brasileiro) que negociava o algodão produzido em Andradina e cidades vizinhas. Eles trabalhavam muito e passavam o dia inteiro, nas idas e vindas, no nosso empório. Eu vendia e anotava tudo nas cadernetas, nunca perdia a conta por isso ganhei o apelido de “Turquinho”. Lá eu trabalhei de 1965 a 1970. Ia para a escola cedo, no “Álvaro Guião” e almoçava rapidinho para ajudar a minha mãe. Eu era como gerente, fazia as compras, controlava a freguesia, que as vezes eram 20 homens adultos no balcão.
Todo mundo querendo tomar uma pinguinha ou fazer uma comprinha. Quando eu arrumei um emprego para ir para o cartório de imóveis do seu Sérgio Rodrigues Silva, deixei a posição de “gerentinho” do empório para cuidar da limpeza do cartório. Foi para lavar privada e cuidar da arrumação. Chamavam a posição de “catiça” e depois de dois anos fazendo isso, o Sérgio me deixou começar a trabalhar na máquina de escrever onde aprendi o ofício. Eu e o Sérgio fomos amigos e ele foi até meu padrinho de casamento.