r7 -07/02/2023 16:51
As equipes de resgate na Turquia e no norte da Síria
prosseguiam nesta terça-feira (7) em sua luta contra o tempo e contra o frio
para encontrar sobreviventes entre os escombros após o terremoto de
segunda-feira (6) que matou mais de 7.000 pessoas.
A ajuda internacional deve começar a chegar hoje às zonas
afetadas pelo terremoto e por seus tremores secundários. O primeiro abalo, na
madrugada de segunda-feira, atingiu 7,8 graus de magnitude e foi sentido
inclusive no Líbano, no Chipre e no norte do Iraque.
Na Turquia, o número de mortos subiu para 5.434, conforme
último balanço da Autoridade de Gestão de Desastres e Emergências. O
vice-presidente Fuat Oktay informou que há mais de 20.534 feridos.
Na Síria, 1.712 pessoas morreram, e 3.640 ficaram feridas, de
acordo com os balanços das autoridades de Damasco e das equipes de resgate nas
zonas rebeldes.
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, decretou estado de
emergência por três meses nas dez províncias do sudeste atingidas pelo
terremoto.
Com base nos mapas da região afetada, a OMS (Organização
Mundial da Saúde) afirmou que "23 milhões de pessoas estão expostas às
consequências do terremoto, incluindo cinco milhões de pessoas
vulneráveis".
"A OMS está ciente da forte capacidade de resposta da
Turquia e considera que as principais necessidades não atendidas podem estar na
Síria, no imediato e no médio prazo", disse a diretora de Emergências da
OMS, Adelheid Marschang, ao conselho executivo da agência da ONU.
O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, alertou
para a a urgência da situação: "Agora é uma corrida contra o relógio. A
cada minuto que passa, a cada hora que passa, diminuem as chances de encontrar
sobreviventes".
Em vários momentos sem ferramentas, os bombeiros
prosseguiram com a dramática busca por sobreviventes durante a noite,
desafiando o frio, a chuva, ou a neve, assim como o risco de novos
desabamentos.
Em Jindires, uma localidade síria na fronteira com a
Turquia, uma recém-nascida, ainda com o cordão umbilical ligado a sua mãe, foi
encontrada viva nos escombros de um prédio.
Mais ao sul, em Aleppo, Mahmud al Ali aguarda ao lado de um
edifício destruído. "Minha sogra, meu sogro e dois de seus filhos (estão
presos)", conta. "Estamos aqui, sentados, no frio e na chuva,
esperando que a equipe de resgate comece a cavar".
Em Hatay, sul da Turquia, as equipes de emergência
resgataram com vida uma menina de 7 anos que estava bloqueada sob uma montanha
de escombros.
"Onde está minha mãe?", perguntou a criança, com
um pijama de cor rosa manchado pela poeira, no colo de um socorrista.
O jogador ganês Christian Atsu, ex-atleta do Chelsea e que
assinou contrato em setembro com o Hatayspor, foi encontrado vivo nos escombros
de um imóvel.
Ajuda internacional
As condições meteorológicas na região de Anatolia dificultam os trabalhos de
resgate e prejudicam as perspectivas dos sobreviventes, que se aquecem em
barracas, ou ao lado de fogueiras improvisadas.
A ajuda internacional para a Turquia deve começar a chegar
nesta terça-feira, com as primeiras equipes de socorristas procedentes da
França e do Catar.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, prometeu a seu
homólogo turco, Recep Tayyip Erdogan, "toda a ajuda necessária, seja qual
for".
O contingente francês pretende chegar a Kahramanmaras,
próximo ao epicentro do terremoto, uma região de acesso difícil e que sofre com
a neve.
A China anunciou o envio de uma ajuda de US$ 5,9 milhões,
que incluirá grupos especializados em resgate em áreas urbanas, além de
equipamentos médicos e material de emergência.
Erdogan anunciou que 45 países ofereceram ajuda, incluindo a
Ucrânia, que anunciou o envio de 87 socorristas para a Turquia, apesar de estar
em plena guerra com a Rússia.
O pedido de ajuda do governo da Síria recebeu, por enquanto,
resposta da Rússia, aliada de Damasco, que prometeu enviar equipes de
emergência nas próximas horas. E 300 militares russos que já estavam na região
ajudam nos resgates.
A ONU também reagiu, mas insistiu em que a ajuda deve chegar
a toda a população síria, incluindo a parte que não está sob controle de
Damasco.
O Crescente Vermelho sírio fez um apelo para que a União
Europeia (UE) retire as sanções contra o regime sírio para permitir o envio de
ajuda.
Dormir ao relento
Os balanços de vítimas dos dois lados da fronteira não param de aumentar e,
levando-se em consideração a magnitude da destruição, a tendência deve
persistir.
Apenas na Turquia, as autoridades contabilizaram quase 5.000
imóveis desabados.
Além das condições já dramáticas, a queda da temperatura
representa um risco adicional de hipotermia para os feridos e as pessoas
bloqueadas nos escombros.
Na segunda-feira, foram registrados pelo menos 185 tremores
secundários, além dos dois terremotos principais: um de 7,8 graus durante a
madrugada (4H17), e outro, de 7,5 graus de magnitude, ao meio-dia.
Os tremores secundários prosseguiram durante a madrugada de
terça-feira. O mais forte, de magnitude 5,5, aconteceu às 6h13 (0h13 de
Brasília) a nove quilômetros de Gölbasi (sul da Turquia).
As autoridades turcas adaptaram ginásios, escolas e
mesquitas para abrigar os sobreviventes. Mas, com medo de novos terremotos,
muitos moradores preferiram passar a noite ao relento.
"Todo mundo está com medo", disse Mustafa Koyuncu,
um homem de 55 anos que passou a noite com a esposa e os cinco filhos no carro
da família em Sanliurfa (sudeste da Turquia).
Este foi o terremoto mais devastador na Turquia desde o
registrado em 17 de agosto de 1999, que deixou 17.000 mortos, incluindo mil em
Istambul.