r7 -04/03/2023 18:41
Cientistas da Universidade da Flórida, nos Estados Unidos,
descobriram que o papel higiênico é "uma fonte inesperada" de PFAS
(família de substâncias perfluoroalquiladas que inclui milhares de compostos
químicos, alguns deles potencialmente cancerígenos) em águas residuais.
Segundo o artigo, publicado nesta semana na revista Environmental Science & Technology Letters, da
Associação Americana de Química, as PFAS são usadas por alguns fabricantes de
papel higiênico ao converter madeira em celulose e podem acabar contaminando o
produto final.
Eles acrescentam que o papel higiênico feito de material
reciclável também corre o risco de ser feito com fibras de outro material que
contenha PFAS.
O objetivo do estudo foi identificar se o papel higiênico
jogado no vaso sanitário era responsável por despejar PFAS nas águas residuais.
Para isso, os autores do estudo reuniram rolos de papel
higiênico vendidos em nove países — EUA, Chile, França, Reino Unido, Holanda,
África do Sul, Costa Rica, El Salvador e Uruguai.
Eles também coletaram amostras de esgoto de estações de
tratamento nos EUA.
Posteriormente, extraíram as PFAS dos papéis higiênicos e do
esgoto, para compará-las.
As PFAS primárias identificadas foram os polifluoroalquil
fosfatos dissubstituídos (diPAPs), que, segundo os autores, "podem se
converter em PFAS mais estáveis, como o ácido perfluoro-octanoico, que é
potencialmente cancerígeno".
O diPAP 6:2 foi o mais abundante em ambas as amostras, mas a
concentração dele estava em níveis baixos.
O grupo de cientistas fez outro experimento em que
considerou as medições do nível de PFAS no esgoto e o uso per capita de papel
higiênico em vários países — EUA, Canadá, China, Austrália, França e Suécia.
Nos EUA e no Canadá, o papel higiênico representava cerca de
4% de todo o diPAP 6:2 encontrado nas águas residuais, patamar que subiu para
35% na Suécia e 89% na França.
Os pesquisadores consideram que a maior parte do diPAP 6:2
dos EUA entra no esgoto a partir de cosméticos, produtos têxteis e embalagens
de alimentos, por exemplo.
A Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos ressalta
que a maioria das pessoas já foi exposta a algumas PFAS, mas que os riscos
existem quando há grandes concentrações e por muito tempo. Alguns desses
compostos também podem se acumular no organismo.
O órgão lista achados de estudos científicos sérios que mostraram
que a exposição a certos níveis de PFAS pode levar a problemas reprodutivos,
como diminuição da fertilidade ou aumento da pressão arterial em gestantes; e
atraso no desenvolvimento de crianças, incluindo baixo peso ao nascer,
puberdade acelerada, variações ósseas ou alterações comportamentais.
Também cita o aumento do risco de alguns tipos de câncer,
incluindo os de próstata, rins e testículos; e a redução da capacidade de o
sistema imunológico combater infecções; além de interferências em hormônios
naturais do corpo e aumento dos níveis de colesterol e/ou risco de obesidade.
A principal dificuldade, já que existem mais de 4.000 PFAS,
é determinar quais são as mais prejudiciais.
"Existem milhares de PFAS com efeitos e níveis de
toxicidade potencialmente variados, mas a maioria dos estudos se concentra em
um número limitado de compostos PFAS mais conhecidos", acrescenta a
agência americana.
A Agência Europeia de Substâncias Químicas destaca que as
PFAS são feitas de ligações carbono-flúor, "uma das mais fortes na química
orgânica".
Com base nisso, são compostos que resistem por muito tempo
no ambiente.
"O comportamento das PFAS no meio ambiente significa
que elas tendem a poluir os lençóis freáticos e a água potável, o que é difícil
e caro de remediar. Certas PFAS são conhecidas por se acumularem em pessoas,
animais e plantas e causarem efeitos tóxicos", detalha a agência.