Setembro Amarelo: Falar pode ser o melhor remédio!

Sérgio Nunes -03/09/2021 09:29

O mês de setembro começou com um chamamento à nação em face da necessidade de se quebrar o silêncio que é capaz de levar à morte. A cor amarela utilizada para a finalidade cumpre o papel de alertar para o problema quase invisível, responsável por isolamento individual, atualmente com efeitos agravados pela pandemia causada pelo Coronavírus. O alvo da campanha é gente, pessoa humana que está bem perto, às vezes ao lado; embora, sem perceber ou ser percebida, e o que é pior, no segundo caso, sequer ser ouvida sem frases feitas, sem preconceitos e sem aconselhamentos de fórmulas sobrenaturais de tratamento.

 Falar sobre suicídio é ainda um tabu, tanto para quem sofre com dores capazes de levar ao atentado contra a própria vida quanto para a sociedade. Depois de enfrentar a incompreensão de familiares, a chacota dos amigos e as dificuldades do sistema público de saúde, a pessoa, aos poucos, vai se fechando em sua própria existência, ampliando sentimento de culpa, de desesperança, e experimentando frustrações que a levam dia a dia a sofrer calada, muitas vezes, passando a falsa impressão de estar feliz e sem qualquer dissabor.

 O medo da incompreensão parece se tornar mais forte que a coragem de falar, afinal, sente os efeitos de ataques: “isso é frescura”, é “falta de Deus”, e até mesmo absurdos como: “se quisesse se matar mesmo teria se deitado sobre os trilhos do trem”, julgamentos que em nada contribuem para reavivar a alma de quem não consegue se defender ou clamar por socorro,

O ano inteiro deveria ser amarelo quando se fala em prevenção ao suicídio, eis que cada caso é único, cada pessoa é digna de atenção individual, porque cada uma possui uma especificidade, uma razão diferente. Depressão, angústia, medo, desesperança, culpa, rancor, ou o nada, isso mesmo, o nada e tantos outros sentimentos capazes de levar a morte não devem ser vistos como um problema para qual se encontre um tratamento, como uma vacina aplicada para imunização da Covid. A solução pode estar no psiquiatra, no psicólogo, no conselheiro espiritual, no remédio, em todos eles juntos ou em nenhum deles. Não há uma fórmula mágica e nem uma resposta capaz de satisfazer a todos os casos como se fossem um vírus ou uma bactéria, mas, ainda assim, a pessoa tem o direito de falar e precisa ser acolhida e compreendida. 

O melhor remédio no combate aos sintomas e sinais que precedem o suicídio pode ser o diálogo. Quem sofre a dor, tem o direito de ser ouvido por pessoa que esteja desprovida de qualquer pré-conceito. Para isso, o CVV oferece apoio emocional, gratuito e voluntário, apolítico partidário e não religioso, a todos os que precisam e queiram falar e serem ouvidos. Independente de classe social, idade, crença ou profissão, o serviço oferecido por telefone, pelo 188 tem voluntários 24 horas para ouvir você! Afinal, falar sobre o assunto pode ser o melhor remédio.

Jornalista, graduado em letras pelas FIRB Andradina; em Teologia pelo IBADEP e CETADEB, em Direito pela UFMS e voluntário do Centro de Valorização da Vida (CVV) de Andradina.