Antônio José do Carmo - Jornalista -26/02/2020 16:31
O
fundamento de um povo está na fé, na espiritualidade, na valorização do ser
sobre o ter. Nós brasileiros somos de maioria absoluta cristã. Os princípios
dessa espiritualidade construíram a nação. Cabem aí muitas críticas, mas o
pouco que nos resta de humanidade, aprendemos com o cristianismo. Sem essa
cultura que em suma apela em cada um o comportamento de irmãos uns dos outros,
o respeito, a tolerância, o perdão e a iniciativa das ações que vão além da
pessoalidade, não seríamos uma nação e não haveria mais ser humano na terra.
Pouca gente saberia viver hoje sem acreditar no poder divino.
Todo
ano a Igreja Católica, a maior mobilizadora da fé cristã no Brasil realiza a
Campanha da Fraternidade. Ela sempre começa na quarta-feira de cinzas e termina
no domingo de aleluia, com a comemoração da ressurreição de Cristo.
Esse
ano o tema se volta para o compromisso que cada um tem com o outro. O trecho do
Evangelho que inspira essa campanha é a parábola do Bom Samaritano ( Lc 10,
25-37 ), quando Jesus diz que para se ganhar a vida eterna é preciso cuidar do
próximo. E explica que o “próximo” é quem e, qualquer um ser humano que estiver
cruzando sua vida. É humano e está por perto? Esse é o irmão e se estiver
precisando de ajuda, é com você o assunto.
Então
Jesus conta que um homem foi assaltado e espancado. Ficou caído à beira do
caminho. Passaram pessoas importantes por ele, mas ninguém fez nada. Até que um
Samaritano passou, viu, teve compaixão e cuidou dele. Fez mais que isso.
Aliviou as dores da ferida com medicamentos, colocou-o em seu animal de
transporte e levou para uma pousada. Pagou a diária e quando estava melhor, foi
embora. Mas aviou o dono do hotel que voltaria e acertaria com ele outras
despesas que tivesse. Há um detalhe de que o assaltado era de nacionalidade
diferente do samaritano e que se comportava inclusive com certa superioridade
em relação ao povo da Samaria.
O
que se revela nessa parábola de tão importante para os dias de hoje? O próximo
pode ser nosso vizinho, alguém da família ou qualquer outro que está precisando
de ajuda bem próximo fisicamente da gente.
Os
psicólogos esclarecem que o ser humano não ajuda quem está próximo demais,
porque aquilo que conhece da intimidade dessa pessoa o faz julgar e selecionar
o tipo de pessoa que merece essa ajuda. A parábola não mostra o samaritano
interrogando o assaltado, impondo condições para receber sua ajuda.
Isso
explica porque as pessoas preferem ajudar quem a quem não está próximo. É
porque não tem elementos para julgar antes de agir em defesa, como “é
ex-detento”, “vai usar o dinheiro para beber cachaça”, “largou da mulher”, “não
gosta de trabalhar”, “está desse jeito porque procurou”, “merece o sofrimento”.
O
cartaz da campanha homenageia a Santa Dulce dos Pobres. Ela cuidou dos pobres
em Salvador na Bahia. Começou seu trabalho usando o pátio do Pelourinho, mas
logo irritou todo mundo porque estava afugentando os turistas. A irmã dela
ofereceu uma área do galinheiro de casa e ali começou a construção de uma
unidade de atendimento à saúde, hoje transformada num dos maiores hospitais de
filantropia do país.
Se
essa prática de ver, sentir compaixão e agir tiver evolução, vamos acabar com a
miséria, a fome e todas as forças da morte que parecem tomar conta para vencer
a vida no mundo. De que lado você está?