hernandes dias lopes -27/12/2020 13:21
A imprensa brasileira estampou nos últimos dias de agosto de
2020 dois personagens do universo evangélico brasileiro, com projeção na
política nacional, denunciados como protagonistas de supostos crimes que
chocaram o país.
Temos consciência que o ser humano, em estado de depravação
total, está sujeito a toda sorte de vilezas morais e não raro imiscui-se em
práticas reprováveis. A denúncia de supostos crimes de corrupção e assassinato,
entretanto, não foi praticada por pessoas avessas à religião, mas por líderes
religiosos que granjearam certa notoriedade no cenário nacional.
Esses escândalos ocorridos ensejam-nos três alertas:
Em primeiro lugar, a malignidade do pecado. O pecado
é muito sutil. Ele aninha-se primeiro no coração. No começo parece um fiapo
podre, mas depois torna-se correntes grossas. No começo é apenas um filete
d’água, depois vira um oceano. Um abismo vai chamando outro abismo.
O pecado vai tomando conta da mente, das emoções e vai,
também, determinando o comportamento. O pecado é maligníssimo. É o pior de
todos os males. É pior do que a própria morte.
O pecado afasta o ser humano de Deus, rompe sua comunhão com
o próximo e destrói a vida por dentro. A ganância torna os homens amantes do
dinheiro e por amor ao dinheiro, a raiz de todos os males, homens que se diziam
honestos, envolvem-se com esquemas de corrupção, assaltam os cofres públicos,
buscam enriquecimento ilícito e maculam a honra do evangelho.
Pessoas que outrora acenavam ser protagonistas de caridade,
passam a amar o poder, a gostar dos holofotes e para alcançar seus interesses,
dispõem-se, inclusive, a eliminar qualquer pessoa que se interponha em seu
caminho, ainda que seja alguém da própria família. Oh, acautelemo-nos da
malignidade do pecado!
Em segundo lugar, a insaciabilidade da cobiça. A
cobiça é a mãe de muitos outros pecados. Nesse ventre maldito são gestados
desejos perversos. Ali se aninham víboras peçonhentas que picam como basilisco.
Aqueles que não se contentam com o que têm, vivem
insatisfeitos e jamais se fartam. São sempre ávidos por terem mais, por querem
mais e, para alcançar esses anseios egoístas, fecham os olhos à sensatez, tapam
os ouvidos à voz da justiça e avançam, açodadamente, contra a vida, a honra, os
bens, o nome e a família do próximo.
Para consumar seus propósitos nefastos, fazem aliança com
comparsas da mesma laia, e assim, na mesma medida que conservam as máscaras da
religiosidade, como ratazanas esfaimadas, mordem sem piedade os parcos recursos
que deveriam assistir os necessitados e afastam de seu caminho, com requinte de
crueldade, qualquer pessoa que possa contrariar seus escusos e inconfessos
interesses.
Em terceiro lugar, a inevitabilidade das consequências. Toda
causa tem um efeito. Todo crime tem uma consequência. O engano do pecado,
porém, torna a pessoa cega e seus praticantes destituídos de racionalidade. O
transgressor imagina que não será apanhado na prática de seus desvios.
O pecado, porém, vai cobrar de seus súditos um preço mais
caro do que gostariam de pagar, vai levá-los mais longe do que gostariam de ir
e vai retê-los mais tempo do que gostariam de ficar.
O pecado produz vergonha e opróbrio. O dinheiro roubado
torna-se combustível para a destruição daquele que o surrupiou. O sangue
derramado torna-se uma voz a ressoar nos ouvidos de Deus, clamando justiça.
A verdade dos fatos é que o crime não compensa. Ele destrói
tanto aquele contra quem é praticado como aquele que o pratica. O crime, porém,
é mais perverso e mais escandaloso quando praticado em secreto por aqueles que
o condenam em público. O crime é mais trágico em seus efeitos quando é manejado
pelas mãos daqueles que se dizem cristãos, pois ao praticarem o que condenam,
abrem caminho para que o nome de Deus seja blasfemado entre os descrentes.
Que Deus tenha misericórdia de nós, livrando-nos de tropeços
e escândalos. Que Deus tenha misericórdia de sua igreja, para que ela não seja
levedada pelo fermento da hipocrisia.
Que Deus tenha misericórdia da nossa nação, para que nessa
terra jamais prospere a injustiça e a violência. Que Deus nos livre, sobretudo,
daqueles crimes que vêm acobertados pelo manto da religião.