hernandes dias lopes -01/11/2020 11:37
O grande número de cristãos envolvidos no sistema político
atualmente traz à tona o seguinte questionamento: "Como um cristão pode
fazer a diferença neste meio?". Falando sobre este tema, o reverendo
Hernandes Dias Lopes tenta esclarecer alguns questionamentos sobre o assunto à
luz da bíblia.
Ao contextualizar o assunto, o teólogo destaca o perigo de
se posicionar contra a carreira de cristãos na política, generalizando todos os
casos.
"É curioso que nos últimos anos, muitos cristãos têm
colocado sua posição contrária a um cristão fazer parte da política, dizendo:
'um crente não deve fazer parte da política, porque toda pessoa que entra para
a política se corrompe' e assim tomam uma medida de omissão, acovardamento...
talvez até do avestruz, que enfia a cabeça na areia e ignora o problema à sua
volta", alerta.
Romanos 13.1-7 é um dos textos mais importantes da história
sobre a questão política. A palavra de Deus estabelece princípios claros acerca
do papel do Estado e da responsabilidade dos cidadãos, a fim de que haja ordem
e progresso na sociedade. Destacaremos, à luz do texto, três verdades
importantes:
1º LUGAR
A origem das autoridades
constituídas (Rm 13.1,2). Paulo diz que não há autoridade que não proceda
de Deus e as autoridades que existem foram por ele instituídas. Logo, se opor
deliberada e formalmente à autoridade é resistir à própria ordenação de Deus.
Aqueles que entram por esse caminho de desordem e anarquia
trarão sobre si mesmos condenação. É óbvio que o apóstolo Paulo não está
dizendo que Deus é o responsável moral pelos magistrados ditadores e corruptos
que ascendem ao poder.
Deus instituiu o princípio do governo e da ordem e não o
despotismo. As autoridades não podem domesticar a consciência dos cidadãos nem
desrespeitar a sua fé. Nossa sujeição às autoridades não é submissão servil nem
subserviência, mas submissão crítica e positiva.
A relação entre a Igreja e o Estado deve ser de respeito e
não de subserviência. Deus não é Deus de confusão nem aprova a anarquia. Deus
instituiu a família, a igreja e o Estado para que haja ordem na terra e justiça
entre os homens.
2º LUGAR
A natureza das autoridades
constituídas (Rm 13.3-5). As autoridades constituídas não devem ser
absolutistas. Elas governam sob o governo de Deus. A fonte de sua autoridade
não emana delas mesmas nem mesmo do povo. Emana de Deus através do povo.
Portanto, a autoridade é ministro (diákonos) de Deus, ou
seja, é servo de Deus para servir ao povo. Aqueles que recebem um mandato pelo
voto popular não ascendem ao poder para se servirem do povo, mas para servirem
ao povo.
Não chegam ao poder para se locupletarem, mas para se
doarem. Não buscam seus interesses, mas os interesses do povo. Esse princípio
divino mostra que o político que sobe ao poder pobre e desce dele endinheirado
não merece nosso voto.
O político que usa seu mandato para roubar os cofres
públicos e desviar os recursos que deveriam atender as necessidades do povo
para se enriquecer ilicitamente deve ter nosso repúdio e não nosso apoio. O
político que rouba ou deixa roubar, que se corrompe ou deixa a corrupção correr
solta, que acusa os adversários, mas protege seus aliados, não deve ocupar essa
posição de ministro de Deus, pois Deus abomina a injustiça e condena o roubo.
3º LUGAR
A finalidade das autoridades
constituídas (Rm 13.4-7). Deus instituiu as autoridades com dois
propósitos claros: a promoção do bem e a proibição do mal.
O governo é ministro de Deus não só para fazer o bem, mas,
também, para exercer o juízo de Deus sobre os transgressores. Portanto, devemos
sujeitar-nos às autoridades não por medo de punição, mas por dever de
consciência.
Cabe a nós, como cidadãos, orar pelas autoridades
constituídas, honrá-las, respeitá-las e pagar-lhes tributo, uma vez que seu
chamado é para atender constantemente à essa honrosa diaconia, de servir ao
povo em nome de Deus.
Quando, porém, as autoridades invertem essa ordem e passam a
promover o mal e a proibir o bem, chamando luz de trevas e trevas de luz, cabe
a nós, alertar as autoridades a voltarem à sua vocação.
Se essas autoridades, porém, quiserem nos impor leis
injustas, forçando-nos a negar a nossa fé, cabe-nos agir como os apóstolos:
“Antes, importa obedecer a Deus do que aos homens” (At 5.29).