CAMPO GRANDE NEWS -12/02/2021 16:10
Abusada no leito da enfermaria dentro do Hospital Regional
em Campo Grande, a mulher de 36 anos que vem sofrendo para dormir após o
ocorrido, ainda ouviu de outros enfermeiros que o suspeito, cujo aparenta ter
cerca de 50 anos, “fazia a festa na UTI”.
Conforme relatado ao Campo Grande News, a mulher que desde
então tem tido problemas de ansiedade e taquicardia na hora de dormir, chegou a
ouvir de três pessoas da equipe hospitalar que não era a única vítima. “Eles me
disseram que ele fazia isso com outras mulheres na maioria das vezes quando
elas estavam inconsciente ou com histórico psiquiátrico”, contou.
A mulher que afirmou ter conseguido junto à Deam (Delegacia
de Atendimento à Mulher) uma medida protetiva, explicou que além do medo de
contar teve medo também dos julgamentos. “Tive medo de morrer, medo de ele
fazer mais coisas, medo de ninguém acreditar”, afirmou ainda aos prantos,
lembrando da pior noite que teve na sua vida.
No quarto onde tudo aconteceu, a vítima não estava sozinha.
Uma senhora de pouco mais de 80 anos era sua companheira, mas conforme relatado
pela mulher, o enfermeiro que também ministrava medicação, teria aplicado algo
na idosa momentos antes de cometer o crime. “Ele ainda mexeu no pé dela e
verificou que ela não se mexia, aí veio pra cima de mim”, disse.
Vítima no hospital, momentos depois do ocorrido (Direto das Ruas)
Ela ainda contou que tentava chamar, gritar por ajuda, porém
a situação debilitada por conta da doença a impedia. “Apesar de não conseguir
lutar com a minha força, eu estava consciente, lúcida. Meu avô me falava que em
situações de risco eu devia prestar atenção em detalhes e foi o que eu fiz. Se
eu o ver com toda certeza consigo reconhecer”.
Após o ocorrido, quando percebeu que a vítima estava em
desespero, o autor pediu ajuda a outra enfermeira para conseguir estabilizá-la
e apertando-a falava “Estamos bem né”. Tempo depois, o homem passou
novamente pelo quarto e disse à mulher “Hoje a noite estou de plantão e eu
volto”. Momento em que a vítima novamente entrou em desespero e resolveu fazer
a denúncia à equipe médica.
“Eu nunca vi ele na minha vida. Não o conheço. Não sei por
que ele me escolheu. Mas ele não tinha direito de achar que porque eu estava
naquele estado, podia fazer algo comigo. Foi nojento, constrangedor. A gente
não tem paz nem no leito de hospital”, disse indignada também com os
julgamentos que tem recebido sobre o caso.
"Vou salvar o que sobrou da vida da minha filha”, diz mãe de paciente estuprada em hospital (Foto: Henrique Kawaminami)
A mãe da vítima de 56 anos contou que na manhã de
sexta-feira (12) pretende fazer a denúncia também na OAB. “Fomos maltratada no
hospital depois do ocorrido desde a portaria até a assistência social, quando
disseram para ela [filha] que era com ela, que não podiam fazer nada”, contou.
A mãe ainda contou que só tem recebido apoio da imprensa e
da polícia. O hospital apenas teria ligado para pedir que enviasse um e-mail à
ouvidoria. “Primeiro eu vou salvar o que sobrou da vida da minha filha”,
concluiu.
“Como mãe, me sinto inútil. O maior medo de uma mãe é que
isso aconteça com um filho e como aconteceu, sinto que falhei”, relatou
bastante abalada a mãe da vítima.
Investigação
A delegada
responsável pelo caso Maíra Machado, da Deam já ouviu 4 enfermeiras – uma
delas, peça-chave na investigação, já que foi a primeira a ter contato com a
paciente logo após aquela madrugada. A profissional relatou que percebeu o
abalo da mulher doente logo que chegou. A troca dos plantões acontece às 6h30.
Outros dois enfermeiros que tem contrato temporário com
o hospital serão intimados para depor. Ambos estavam na escala de trabalho da
madrugada de 4 de fevereiro, data do crime.
Maíra afirma que, até agora, o hospital só colaborou com a
entrega de escala de plantão. A Deam aguarda ainda o envio de outros documentos
solicitados, como o prontuário médico da paciente.
A mulher foi encaminhada para exames no Imol (Instituto de
Medicina e Odontologia Legal). A responsável pelo inquérito pediu ainda perícia
nas roupas que a paciente usava na noite do estupro. Ainda não há prazo,
portanto, para a conclusão das investigações.
Não há informações sobre quais providências foram tomadas
pela instituição. "Reiteramos que todos os casos de supostas infrações nos
diversos campos, administrativo e assistencial, o HRMS pauta-se nos ditames
éticos e legais vigentes para tomada de providências", diz nota enviada
pelo hospital, a única manifestação até agora.
O caso – A
paciente estava internada desde o dia 1º de fevereiro. Bastante debilitada,
depois de ter passado mal durante a noite, tendo vômito e falta de ar, a
paciente notou quando o profissional de enfermagem começou a ir ao quarto dela
e passou a passar a mão em seu corpo.
Em determinado momento, por volta das 3h, o suspeito,
segundo a vítima, retornou ao leito com “óleo de girassol”, passou nos dedos e
começou os abusos. “Dizia que eu ia gostar”, contou a mulher em entrevista ao
Campo Grande News, um dia depois de receber alta.
A vítima ainda tenta se recuperar das sequelas
que a covid-19 deixou. No entanto, segundo ela, se as dores da doença ainda
causam desconforto, o abalo emocional, depois de ser abusada sexualmente, é
irreparável.
"Vou
salvar o que sobrou da vida da minha filha”, diz mãe de paciente estuprada em
hospital (Foto: Henrique Kawaminami)