folhasp -15/10/2020 19:12
A Polícia Civil de Campinas (93 km de SP) investiga uma
mulher que levou um idoso morto a uma agência bancária, para tentar sacar o
benefício dele. A tentativa de fraude contra a previdência do estado de São
Paulo ocorreu no último dia 2. A mulher havia levado o cadáver em uma cadeira
de rodas.
Um laudo, concluído e entregue à Polícia Civil nesta
quinta-feira (15), indica que o idoso, um escrivão de polícia aposentado de 92
anos, tinha morrido cerca de 12 horas antes de seu corpo ser levado pela
mulher, de 58 anos, até uma agência do Banco do Brasil, na região central da
cidade. Ela era companheira do aposentado.
"A causa da morte foi natural, mas vamos indiciar a companheira do idoso
por estelionato e vilipêndio de cadáver [desprezar ou humilhar corpo]",
explicou ao Agora o delegado Cìcero Simões da Costa, do 1º DP de Campinas.
Em decorrência da conclusão do laudo, acrescentou o policial, funcionários do
banco, além da ex-companheira do idoso, serão ouvidos novamente em depoimento.
No último dia 2, guardas-civis de Campinas foram acionados para irem a agência
do Banco do Brasil, pois no local o escrivão de polícia aposentado
"estaria passando mal."
Ao chegar na agência, segundo relatado pelos guardas à polícia, uma equipe de
bombeiros civis já atendia o idoso, que chegou ao local, por volta das 10h, em
uma cadeira de rodas, empurrada pela mulher de 58 anos, que se identificou como
companheira dele, e afirmou estar desempregada.
Em seguida, ainda de acordo com os GCMs, uma equipe do Samu (Serviço de
Atendimento Móvel de Urgência), também chegou à agência e socorreu à vítima. Um
dos socorristas levantou dúvidas sobre a morte do policial aposentado,
"que aparentava estar morto há mais tempo, devido ao estado cadavérico em
que se encontrava e ao inchaço dos pés", diz trecho de boletim de
ocorrência.
A mulher que acompanhava o escrivão aposentado afirmou à
polícia manter uma união estável com ele, há cerca de dez anos. Ela teria dito
aos guardas, segundo registrado pelo 1º DP, que levou o companheiro ao banco
porque ela movimentava as contas do idoso. Porém, a desempregada alegou ter
perdido a senha de letras do companheiro, com a qual receberia a aposentadoria
- cujo valor não foi informado.
Contradições
Apesar das alegações, a mulher não apresentou nenhuma
procuração que a autorizava a movimentar as contas do idoso. Ela também,
segundo a polícia, entrou em contradição ao afirmar duas histórias sobre a
última vez em que falou com o então companheiro.
Em uma delas, garantiu ter falado com o idoso na manhã em que o levou ao banco.
"Porém em outro momento, questionada pelos guardas de quando teria
conversado com [o escrivão aposentado] pela última vez, afirmou que havia
falado com seu companheiro na data de ontem [1º de outubro]", afirma
trecho de boletim de ocorrência.
Ao chegar na agência, a desempregada teria tentado ser atendida rapidamente,
passando a afirmar que o idoso estava passando mal, fazendo com que testemunhas
acionassem o Samu.
Por causa das duas versões contadas pela mulher, além da
suspeita de o idoso ter sido levado já morto ao banco, situação confirmada
nesta quinta por meio de laudo, os GCMs decidiram apresentar o caso no 1º DP de
Campinas. O Agora tentou entrar em contato com a desempregada, mas não havia
conseguido até a publicação desta reportagem.
Resposta A Spprev (São Paulo Previdência), da gestão João Doria (PSDB), afirmou
contar com um núcleo de investigações previdenciárias com o qual detecta e
investiga casos de supostas fraudes previdenciárias. "Todos os
pensionistas e aposentados civis e militares devem manter seu cadastro atualizado
para continuar recebendo os benefícios", diz trecho de nota.
O órgão acrescentou que o recadastramento deve ser feito, obrigatoriamente,
pelo próprio pensionista e aposentado civil e militar, uma vez ao ano, em seu
mês de aniversário. A prova de vida por ser feita em qualquer agência do Banco
o Brasil, ou em alguma agência presencial da Spprev. "No caso de
pensionistas universitários, o recadastramento deverá ser realizado
semestralmente, nos meses de janeiro e julho", explicou.
Sobre o caso mencionado nesta reportagem, o órgão afirmou que o benefício
"foi suspenso e será extinto."
O banco do Brasil afirmou usar recursos como identificação do cliente, por meio
de senhas, além de cartão e biometria para "mitigar o risco de fraudes nos
pagamentos de benefícios previdenciários". "O BB esclarece ainda que
cumpriu com todos os protocolos no caso da ocorrência registrada em uma de suas
agências em Campinas, o que inclui a apresentação de procuração ou a presença
do beneficiário na agência", afirma o banco em nota.