isto e -19/03/2022 18:56
O Exército russo afirmou, neste sábado (19), que usou
mísseis hipersônicos na Ucrânia, um recurso que aparentemente ainda não havia
sido utilizado neste conflito e que, segundo o presidente russo Vladimir Putin,
faz parte de um armamento “invencível”.
“Em 18 de março, o complexo aeronáutico Kinjal, com seus
mísseis balísticos hipersônicos, destruiu um importante depósito subterrâneo de
mísseis e munições da aviação ucraniana na cidade de Deliatin, na região de
Ivano-Frankivsk”, anunciou o porta-voz do ministério da Defesa, Igor
Konashenkov.
Esta região está localizada a cerca de 50 km da fronteira
com a Romênia, país membro da Otan.
Até agora, a Rússia não havia informado sobre o uso desse
míssil balístico nos dois conflitos em que está envolvida – na Síria e na
Ucrânia -, mas apenas em manobras desde que o testou com sucesso em 2018.
“É provável que o Kinjal tenha sido usado em condições de
combate, e é uma estreia mundial”, disse à AFP Vassili Kashin, analista militar
e diretor de um centro de pesquisa da Escola Superior de Economia de Moscou.
Esse tipo de míssil desafia todos os sistemas de defesa
antiaérea, segundo Moscou, porque sua velocidade (cerca de 12.000 km por hora)
e sua grande manobrabilidade tornam impossível ou muito difícil de interceptar,
embora alguns especialistas militares ocidentais estimem que a Rússia possa ter
exagerado sobre as capacidades desta arma ar-terra.
– Destruir e provocar medo –
Os mísseis balísticos hipersônicos Kinjal e os mísseis de
cruzeiro Zircon pertencem a uma família de novas armas desenvolvidas pela
Rússia e que o presidente Vladimir Putin descreve como “invencíveis”.
A arma mais valiosa do exército é o planador hipersônico
Avangard. Ele voa até 33.000 km/h, pode transportar uma carga nuclear e muda de
direção ou altura de forma imprevisível, tornando praticamente impossível
interceptá-lo.
Os Kinjal, uma palavra russa que significa “punhal”,
atingiram todos os seus alvos a uma distância de mais de 1.000 km durante os
testes de 2018, de acordo com o ministério da Defesa russo.
O alvo de sexta-feira foi um depósito subterrâneo.
“Essas infraestruturas são difíceis de destruir com mísseis
clássicos. O míssil hipersônico tem uma capacidade de penetração e poder
destrutivo mais importante devido à sua alta velocidade”, disse. Para o
especialista militar russo Pavel Felgenhauer, usar o Kinjal não dá à Rússia uma
vantagem estratégica na Ucrânia, mas o efeito psicológico é claro, já que
Moscou está implantando uma de suas armas mais destrutivas.
“No final, não muda nada no campo de batalha, mas fica claro
que tem um efeito na propaganda psicológica, para assustar a todos”, aponta.
Moscou desenvolveu esse tipo de armamento para contornar
sistemas de defesa, como o escudo antimísseis dos EUA na Europa.
Seu uso na Ucrânia ocorre em um momento em que o exército
russo, apesar de seus anúncios, não parece estar no controle do céu, já que a
defesa ucraniana continua causando perdas.
A Rússia foi o primeiro país do mundo a desenvolver armas
hipersônicas. Outros países também aceleraram seus programas de armas para
tentar alcançar Moscou.
A Coreia do Norte, por exemplo, diz que também os desenvolve
e os testou. E também a China, que surpreendeu os ocidentais com um teste com
um míssil supersônico capaz de viajar a cerca de 6.000 km/h.
“Somos os primeiros a implantar esse armamento. Os chineses
também fizeram isso recentemente, mas os Estados Unidos não têm essa arma por
enquanto”, ressaltou Kashin.