Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves - dirigente da ASPOMIL -26/02/2020 16:51
Só na terça-feira (25), foram registrados 25 assassinatos no
Ceará, um número quase sete vezes maior que o da terça anterior (17), véspera
da eclosão do motim de policiais que reivindicam melhores salários e condições
de trabalho. Naquele dia morreram três cearenses.
Na semana de greve, o estado registrou 170 mortes, segundo
informe da secretaria estadual de Segurança Pública e Defesa Social. Esses
números servem para destacar a importância dos trabalhos policiais para a
segurança da população.
Desde 1997, quando policiais militares mineiros fizeram a
primeira greve e um policial morreu baleado em passeata, a classe luta por
avanços salariais e profissionais. Em 12 estados há, atualmente, pressão nesse
sentido, habilmente explorada por políticos que, a nosso ver, poderiam até
apoiar, mas com o cuidado de não transformar as reivindicações em plataforma
eleitoral.
A polícia existe desde que o mundo é mundo e seus
profissionais são diferenciados. Por isso, eles não têm o direito legal de
entrar em greve e nem de fazer ações que reduzam a eficiência do seu
trabalho.
É importante que a classe observe essa limitação e
reivindique no estrito terreno legal para evitar revezes e, principalmente, a
morte tanto de integrantes da classe quanto de pessoas do povo como decorrência
dos movimentos. Em suma: se a polícia parar, é o caos e, além de patrimônio,
vidas são colocadas em jogo.
Os governantes não devem se aproveitar desse espaço menor de
pressão para negligenciar as reivindicações pois, aí, não restará alternativa
diferente do que apelar à ilegalidade, com todos os riscos que isso representa.
Não se deve ignorar as agruras que o policial passa por, sem
ganhos suficientes, ter de morar em locais perigosos da periferia onde nem pode
declinar sua profissão porque seus vizinhos são os marginais inimigos da
corporação, por ter de dividir o transporte público com aqueles que combate
profissionalmente e, principalmente, por não conseguir pagar suas contas com o
que ganha. É preciso considerar o grande numero de suicídios e de moléstias de
ordem psicológica existente nas tropas.
Durante as últimas décadas, quando o país caiu nas mãos dos
demagogos que buscaram encurtar a ação dos meios de segurança pública para com
isso obter votos, todos os policiais foram prejudicados. Mas tudo tem um
limite.
O Ceará já explodiu e outras 11 unidades da federação têm
problemas explícitos que, não resolvidos, também poderão levar ao desastre.
Governos – federal e estaduais – e lideranças políticas e sociais devem se
preocupar com isso. Ouvir e atender aos reclamos da classe naquilo que for
possível. Até porque, sem contar com os trabalhos dos policiais, a vida fica
mais difícil para todos e, gradativamente, passa a ser mais volátil e a ter
valor insignificante...
Vale, nesse caso, o velho jargão do próprio meio, a ser
observado tanto por policiais quando pelos governantes, políticos e cidadãos.
“Não faça da polícia uma arma; a vítima será a sociedade”...