r7 -23/01/2023 15:30
Na bagagem de sua primeira visita oficial à Argentina, o
presidente Lula leva um trambolho disforme: a insistente ideia da criação de
uma moeda única (ou comum) para transações entre países do Mercosul (ou somente
com a Argentina). Ainda sem pé nem cabeça, cercada de dúvidas, essa aventura
monetária tem tudo para não dar em nada. Mas chama atenção pela perseverança do
governo eleito em voltar ao tema.
Analisando os poucos argumentos que foram postos em debate,
tudo indica que a única justificativa para dar prosseguimento ao “peso real” é
ajudar os argentinos — atolados em uma crise econômica que comunga inflação com
crescimento da pobreza e, principalmente, a profunda escassez de reservas
cambiais. A Argentina está numa situação grave e sem muitas perspectivas.
Do ponto de vista brasileiro, não há ganhos nessa
empreitada, nem mesmo o retorno do projeto político de reforçar a liderança do
Brasil na América do Sul — algo, por si só, indiscutível. Então, por que
criar lastro para o endividamento unilateral dos nossos vizinhos à custa dos
nossos estimados 372 bilhões de dólares sob a guarda do Banco Central?
Mui amigo, Lula, não por acaso, pretendia aproveitar essa
viagem a Buenos Aires para se encontrar com os presidentes de duas ditaduras de
esquerda, o venezuelano Nicolás Maduro e o cubano Miguel Díaz-Canel. Sob o
pretexto de retomar as relações diplomáticas interrompidas pelo governo
Bolsonaro, iríamos presenciar o abraço de saudosos aliados ideológicos.
Estaria tudo dentro da lógica petista de um Brasil como potência
bolivariana, não fosse um detalhe que vem tomando enormes proporções: Lula, até
o momento, não apresentou, por meio de seu ministro da Fazenda, Fernando
Haddad, um projeto econômico para o país. Essa ociosidade e falta de rumo
talvez expliquem a persistência do governo nessa geringonça de moeda única ou
comum. Tanto faz.