agencia brasil -23/09/2020 22:35
A Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) aprovou
de forma unânime, por 69 votos a favor e nenhum contra o relatório que pede o
impeachment do governador afastado Wilson Witzel. A sessão, realizada nesta quarta-feira
(23), reuniu 69 deputados, presencialmente ou de forma remota. Um deputado está
afastado por problema de saúde.
O projeto precisava de um mínimo de 47 votos para ser
aprovado. A resolução será publicada em Diário Oficial nesta quinta-feira (24)
e o Tribunal de Justiça (TJ) será comunicado para dar início à formação do
Tribunal Misto. O tribunal é formado por cinco deputados eleitos pela Alerj e
cinco desembargadores eleitos por sorteio pelo TJ. A partir da formação do
tribunal, o governador é afastado por até 180 dias enquanto os seus membros
analisam a questão.
Witzel, que desistiu de comparecer presencialmente à Alerj,
falou por videoconferência ao final dos discursos de 28 deputados, todos com
críticas a ele. O governador afastado falou por cerca de 60 minutos. Ele se
defendeu, dizendo que foi um julgamento injusto: “Estou sendo linchado moral e
politicamente, sem direito de defesa. A tirania escolhe suas vítimas.
Felizmente a história mostra que mártires nunca morrem”. Citou o Sermão da Montanha,
“bem-aventurados os que têm fome e sede de Justiça, porque eles serão fartos”.
Witzel também falou sobre a democracia, criticando a forma
como ele foi afastado pela Justiça: “Estamos matando a nossa democracia. O bem
maior é o voto. O respeito e a força do voto estão sendo solapados. Eu fui
afastado sem o direito de falar, sem inquérito prévio. Estou sendo afastado por
180 dias, em pleno exercício do mandato, outorgado pela população. Não pude
exercer o meu amplo direito de defesa”.
Witzel adotou um tom forte, por vezes com ataques ao
Legislativo: “Eu jamais fui omisso em ouvir e procurar corrigir. Quantos
deputados foram investigar as OSs [organizações sociais]? Se tinha pagamento
irregular, os senhores e as senhoras também foram omissos. Muitos aqui jamais
me procuraram. Só falam da tribuna, só reclamam, mas não trazem solução
nenhuma. Só fazem projetos autorizativos, atos politiqueiros”.
O governador afastado encerrou dizendo que não se importava
de ser julgado, porque tinha a convicção que jamais havia praticado ato
ilícito: “Não encontraram um centavo na minha conta. Eu não tenho milhões. Só
tenho a minha casa no Grajaú. Eu já estou julgado, previamente condenado. Estou
sendo amputado do meu cargo. Estou sendo linchado politicamente, de uma forma muito
triste. Eu não vim aqui para roubar, vim aqui para mudar a política. E a
política não vai me mudar”.
O início do processo de impeachment de Witzel foi aprovado
em 10 de junho, por 69 deputados, de um total de 70 parlamentares. Ele é
suspeito de envolvimento em compras fraudulentas e superfaturadas de
equipamentos e insumos para o combate à pandemia de covid-19.
Witzel foi alvo, no dia 26 de maio, da Operação Placebo,
autorizada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), que investiga corrupção na
compra de equipamentos e insumos para o combate à pandemia no estado.
Além dele, também foram alvos a primeira dama, Helena
Witzel, a empresa Iabas, que presta serviços de saúde, e outras pessoas. Os
policiais federais chegaram a realizar buscas no Palácio Laranjeiras,
residência oficial do governador, e na casa da família Witzel, no bairro do
Grajaú.
Dias antes, o seu então secretário de Saúde, Edmar Santos,
já havia sido afastado do governo, por acusações de desvios na pasta, em favor
de grupos empresariais, com o recebimento de propinas.
Witzel foi afastado do poder, por 180 dias, no dia 28 de
agosto, no âmbito da Operação Tris in Idem, um desdobramento da Operação
Placebo, que investiga atos de corrupção em contratos públicos do governo do
Rio de Janeiro. A ação foi autorizada pelo ministro do STJ Benedito Gonçalves.