r7 -04/01/2023 15:14
A cada enxadada, uma minhoca. Têm sido assim as declarações
do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Pode parecer implicância, mas o
ex-prefeito não reeleito de São Paulo, principal escudeiro de Lula, só nos
brinda com frases evasivas e confusas, que em nada colaboram para um clima de
segurança sobre o futuro econômico do pais.
A última sinalização, desastrosa, pronunciada na terça-feira
(3), se deu durante encontro do ministro com o embaixador da Argentina no
Brasil, Daniel Scioli. Eles simplesmente tornaram pública a intenção de criar
uma moeda comum para o Mercosul. É isso mesmo: somos obrigados a imaginar uma
fusão entre o real, os pesos e bolívares.
Parece um pesadelo ou delírio, que não guarda nenhuma
semelhança com o esforço dos países europeus na criação do euro, implantado em
1999, após décadas de preparativos e extensas negociações. A comparação,
portanto, é esdruxula, seja pelas caraterísticas das fortes economias
envolvidas entre países de economia minimamente parelhas e expressiva
estabilidade fiscal e monetária.
Como é possível sugerir a ideia de moeda única entre economias
tão díspares, para não dizer caóticas, repletas de incongruências de PIB, renda
per capita, índices de inflação, desigualdades sociais e governança fiscal? Da
Argentina, com sua inflação descontrolada e crises cíclicas, nem se fala.
É uma ideia tão esdrúxula quanto impossível de colocar em
prática. Mas essa proposta, por si só, ainda no terceiro dia de governo, parece
uma ameaça, mais que um deboche com nossa inteligência.
Em respeito aos fatos, é preciso lembrar que o ex-ministro
Paulo Guedes chegou a defender, de passagem, a implementação dessa “moeda
única”, logo descartada e lançada ao esquecimento. Ninguém imaginava que essa
curiosa gambiarra monetária voltaria à cena, num cenário ainda mais degradado
nos últimos anos.
Disseram Haddad e Scioli que a intenção é a de fortalecer o
Mercosul e seus países. Quase dá preguiça, mas é preciso deixar bem claro: esse
projeto tem tanta chance de vingar quanto a picanha com cerveja na mesa de todo
brasileiro. Bobagem gastar energia com isso, em meio aos tantos desafios que
emparedam esses vizinhos de desfortúnios. Se não é galhofa, é burrice mesmo. Ou
falta do que fazer.