Assistência Social é política pública e não caridade, afirma secretária Silvana Santos

FOLHA DA REGIÃO -27/03/2022 23:34

A secretária de Promoção Social de Andradina, Silvana Silva Santos defende que o serviço público realize um trabalho para tirar as pessoas da situação de vulnerabilidade social, dando condições para que possam mudar suas vidas para melhor de forma contínua. Nesta entrevista para a Folha da Região, ela, que é formada em Serviço Social fala sobre os desafios encontrados nesta jornada, destaca que a pandemia fez crescer a pobreza e a violência e faz um balanço sobre as ações já realizadas.

Leia a entrevista:

Quais são os principais desafios do atendimento na área social em Andradina?

O primeiro grande desafio hoje é mostrar a identidade da Assistência Social como política pública e não caridade e filantropia, mesmo que nossa trajetória esteja sempre cruzando esse caminho.

Outro desafio é a compreensão desses usuários da assistência social para entender o que que a concessão de benefícios é eventual, pois existe uma cultura de que isso deva existir para a vida inteira, enquanto nosso trabalho é para resgatar a autonomia das pessoas. Cada pessoa que sai do cadastro de benefícios é porque está gozando de uma vida mais produtiva e independente das políticas sociais. E quem sabe o principal desafio ainda seja o do financiamento para a Assistência Social.

Enquanto a Educação e a Saúde têm limites de investimento mínimos estabelecidos por lei, a Assistência Social continua à margem. Na administração do prefeito Mário Celso conseguimos dobrar os investimentos no setor, mas ainda estamos à margem quando se fala em investimentos estaduais e federais.

A pandemia criou uma demanda maior? Como está sendo gerenciada esta nova realidade?

A pandemia trouxe novos usuários para dentro da assistência. Pessoas que nunca haviam precisado recorrer e, mesmo com renda, não conseguiram mais prover suas famílias e ainda existiam aqueles que perderam seus empregos e foram atirados a uma situação ainda pior. Uma das saídas que encontramos foi a criação de um cartão alimentação municipal para aquelas famílias em situação de vulnerabilidade por causa da pandemia e conseguimos passar recursos em pecúnia para que as famílias pudessem adquirir o bem que estivesse em falta.

Onde mais pode se notar os efeitos da pandemia, junto à assistência social?

Realmente a pandemia não trouxe apenas a fome, mas também a violência. Contra a mulher, contra o idoso e contra as crianças. A violência contra o idoso é uma das que mais aumentou, quando as famílias em dificuldade também não tinham estabilidade para cuidar da pessoa idosa o que acabava em episódios de violência dentro do núcleo familiar. O semelhante aconteceu contra crianças e adolescentes. Nunca tivemos tantas crianças acolhidas na história do município e também um grande aumento no número de abuso sexual dentro e fora do núcleo familiar.

É preciso registrar o grande aumento da natalidade em famílias que já eram assistidas pela Assistência Social esse número multiplicou várias vezes e a cada nova gestação houve a inclusão e atendimento dessas pessoas em novos programas sociais. Esses fatores elevam que tipos de números ligados à questão social? A criança que nasce dentro de circunstâncias como esta são atendidas desde o primeiro dia de vida e não é incomum o agravamento dos conflitos familiares neste período de pandemia.

A violência fomentada pelo consumo de substâncias psicoativas, principalmente do álcool, pode até significar o agravamento dos casos de violência e o surgimento de casos de feminicídio ou homicídio. É claro que diante deste quadro, também aumentou o número de mulheres “chefes de família”, muitas vezes se tornando independentes dos companheiros na hora da gravidez, seja por decisão ou abandono.

Como a administração municipal tem atuado para mudar a realidade das famílias em vulnerabilidade?

Temos ampliado a nossa atuação, mas não somente em programas pontuais de assistência imediata, e sim planejando o atendimento para o futuro, onde a verdadeira missão não é ampliar o número de pessoas atendidas, mas prover saídas para que as pessoas possam ter condições de sair da condição de vulnerabilidade social. A Unicef chamou a atenção, nesta semana, para a grande quantidade de crianças e jovens que estão crescendo em um cenário de pobreza financeira.

E isso acarreta muitos problemas. Como Andradina tem lidado com este cenário?

Diante desses dados, dentro do município de Andradina nós também tivemos um aumento ou serviços ofertados a criança adolescente, com ampliação das parcerias com associações e entidades para suprir o aumento da demanda.

Temos dois principais projetos atuando em duas regiões da cidade para crianças e adolescentes de 6 a 15 anos. Utilizamos o esporte e a cultura como ferramentas para trabalhar essa questão dentro dos bairros, levando futebol, natação, vôlei e também atividades culturais, numa parceria com outras secretarias. Também temos entidades que trabalham com a oferta de serviço de convivência e fortalecimento de vínculos destinado a crianças de 0 a 6 anos.

Neste segmento tivemos um grande aumento da demanda em nossas creches municipais e assistenciais. Continuamos abraçando essa questão e projetando novas iniciativas como a Casa da Criança, um sistema de convivência lúdica no modelo das brinquedotecas que serão instaladas em sedes de associações de moradores em todos os bairros de Andradina. Além de brincar eles terão atividades pedagógicas. Essas casas vão apoiar a vida de mães que trabalham dentro ou fora de suas casas e que necessitem de horários flexíveis.

Este programa também pode reduzir a os índices de violência contra crianças. Alguma outra bandeira que requer atenção? Devido a toda essa demanda fomentada pela pandemia, estamos hoje planejando ações para a questão do idoso. Por determinação do prefeito Mário Celso Lopes, o município estuda e já estamos tentando fazer adesão no projeto “República dos Idosos”, que é vinculada à Secretaria de Habitação do Estado.

O programa oferece proteção, apoio e moradia subsidiada a grupos de pessoas estado de abandono, situação de vulnerabilidade e risco pessoal e social, com vínculos familiares rompidos ou extremamente fragilizados e sem condições de moradia e autossustentação. A republica dos idosos é uma maneira de moradia coletiva e com condições de desenvolver, de forma independente, as atividades da vida diária para eles.