r7 -11/06/2021 23:12
Um dia após afirmar ter solicitado um parecer ao Ministério
da Saúde para desobrigar
o uso de máscaras no país, o presidente Jair Bolsonaro ajustou o discurso e
disse que quem decidirá sobre a questão serão prefeitos e governadores. Ao
deixar o Palácio da Alvorada, nesta sexta-feira (11), o presidente afirmou que
o pedido feito ao ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, é para que elabore um
estudo sobre a possibilidade de pessoas vacinadas ou já infectadas dispensarem
a proteção.
"Ontem pedi para o ministro da Saúde fazer um estudo
sobre máscara. Quem já foi infectado e quem tomou a vacina não precisa usar
máscara. Mas quem vai decidir é ele, vai dar um parecer. Se bem que quem
decide, na ponta da linha, é governador e prefeito. Segundo o Supremo (Tribunal
Federal), quem manda são eles", afirmou Bolsonaro a apoiadores,
distorcendo a decisão da Corte que deu autonomia a Estados e municípios para
adotar ações para enfrentar a pandemia, mas não eximiu a União de agir.
Ontem, em evento no Palácio do Planalto, Bolsonaro disse ter
"ultimado" o ministro da Saúde para publicar um parecer sobre o uso
de máscaras para quem já foi vacinado ou já foi infectado. "Ele vai
ultimar um parecer visando a desobrigar o uso de máscaras por parte daqueles
que estejam vacinados ou que já foram contaminados. Para tirar este símbolo
(segurando uma máscara descartável na mão) que tem a sua utilidade para quem
está infectado", disse Bolsonaro nessa quinta-feira (10). Ele foi
aplaudido pelos presentes ao anunciar a medida.
A mudança do discurso ocorreu após uma série de críticas
depois que Bolsonaro revelou a demanda feita a Queiroga. O ministro da Saúde
divulgou, horas mais tarde, um vídeo na qual disse que o presidente acompanha o
cenário internacional e "vê que em outros países, onde a campanha de
vacinação está avançada, as pessoas já estão flexibilizando o uso das
máscaras". "O presidente me pediu que fizesse um estudo para avaliar
a situação aqui no Brasil. Vamos atender essa demanda do presidente Bolsonaro,
que está sempre preocupado com pesquisas em relação à covid."
Queiroga disse não haver prazo para que o estudo seja
concluído. "Queremos que seja o mais rápido possível. Para isso,
precisamos vacinar a população brasileira e avançar", afirmou. Confrontado
pela imprensa sobre o ritmo acelerado de vacinação em outros países nesta
sexta, o ministro disse, exaltado, que será "o nosso caso".
"Estamos nos antecipando para termos posições sólidas em relação a todas
as medidas que devem ser adotadas no enfrentamento da pandemia", afirmou.
Em seguida, ao ser questionado sobre a fala de que a decisão
sobre usar ou não máscaras cabe a governadores e prefeitos, Queiroga declarou
não ser "assessor das falas do presidente da República". O ministro
participava da inauguração de leitos no Hospital Municipal de Guarapiranga,
zona sul da capital, ao lado do prefeito Ricardo Nunes, que reafirmou a
obrigatoriedade do uso de máscaras em São Paulo. "Em hipótese nenhuma o
uso da máscara será desobrigado na cidade de São Paulo. A máscara, está
cientificamente comprovado, ajuda a reduzir a transmissão", afirmou Nunes.
Apesar da mudança de discurso em relação à final sobre as
máscaras, Bolsonaro voltou a defender nesta sexta-feira que pessoas infectadas
ou vacinadas não utilizem a proteção. Depois de perguntar aos presentes se
tomariam a vacina, o presidente repetiu que "dará o exemplo" e será o
último a se imunizar. "Alguns acham que o exemplo é se vacinar. Não, o
exemplo é dar o lugar para quem está desesperado. Tem gente aí desesperada
dentro de casa esperando ser vacinada para sair". Aos 66 anos, Bolsonaro
poderia ter se vacinado desde março.
Dispensa só pode ocorrer com controle da transmissão, diz
OMS
Após os primeiros países optarem por autorizar a dispensa do
uso de máscaras por pessoas vacinadas, a OMS (Organização Mundial da Saúde)
pediu cautela aos governos. Segundo a organização, a dispensa desses cuidados
pode acontecer somente quando não há mais transmissão comunitária da doença e
não depende apenas da vacinação contra a covid-19.
"A pandemia não terminou, há muita incerteza com as
novas variantes e precisamos manter os cuidados básicos para salvar
vidas", afirmou Maria van Kerkhove, líder técnica para a covid-19 da OMS.
No caso de pessoas já contaminadas, especialistas também não recomendam
abandonar a proteção porque há a possibilidade de reinfecção.