r7 -24/04/2020 18:34
O presidente Jair Bolsonaro se
pronunciou na tarde desta sexta-feira (24) sobre o pedido de demissão do ex-ministro da Justiça e
Segurança Pública, Sergio Moro, ocorrido após a exoneração de Maurício Valeixo, chefe da Polícia
Federal. Ele afirmou que o Moro condicionou a saída de Valeixo a uma indicação
ao STF (Supremo Tribunal Federal) e disse que o ex-ministro "tem
compromisso com seu ego e não com o Brasil".
Segundo o presidente, em uma
conversa com Moro nesta quinta, o ainda ministro disse que poderia haver a
troca de Valeixo sim, desde que, em novembro, seu nome fosse indicado ao STF.
Bolsonaro disse que sua resposta foi reconhecer as qualidades do ex-ministro,
porém negar a troca. "É desmoralizante para um presidente ouvir isso."
A expectativa do presidente era definir, na conversa com Moro, o nome do
substituto de Valeixo.
Bolsonaro disse que reclamava de
não receber relatórios diários da PF. "Sempre falei pra ele, 'Moro não
tenho informações da PF. Tenho que todo dia ter um relatório do que acontece
nas últimas 24 horas para bem decidir o futuro dessa nação'. Nunca pedi para
ele o andamento de qualquer processo."
Ego
O presidente começou seu discurso
dizendo que "uma coisa é você admirar uma pessoa, a outra é conviver com
ela, trabalhar com ela” e afirmando que o ex-ministro "tem compromisso
consigo próprio, com seu ego e não com o Brasil".
"Ao prezado ex-ministro.
Como você disse na sua coletiva por três vezes que tinha uma biografia a zelar,
eu digo que eu tenho o Brasil a zelar", disse Bolsonaro.
O presidente disse ainda que
Valeixo dizia estar cansado do cargo e que, na quinta-feira, em uma
videoconferência com 27 superintendentes da PF, disse que desde janeiro vinha
falando com Moro que queria deixar a instituição. "Os superintendentes são
prova disso", afirmou Bolsonaro. O presidente contou que conversou por
telefone com Valeixo na noite de quinta e que ele concordou a exoneração.
"Desculpe, senhor ministro, o senhor não vai me chamar de mentiroso",
afirmou.
Bolsonaro disse que sempre deu
liberdade a seus ministros, inclusive pra a nomeação de cargos chaves de cada
pasta, No entanto, argumentou que é exclusivamente ao presidente que a lei
confere a prerrogativa de nomear e exonerar os principais nomes de sua
equipe.
Verdade
No início da tarde, o presidente
havia anunciado: “restabelecerei a verdade sobre a demissão a pedido do
Sr. Valeixo, bem como do Sr. Sérgio Moro". Em pronunciamento no Ministério
da Justiça e Segurança Pública esta manhã, Moro negou ter assinado o decreto de exoneração do chefe da
PF e também disse que Valeixo não saiu a pedido, conforme consta no documento.
Braço-direito e homem de
confiança do ex-juiz da Lava Jato, Valeixo teve sua exoneração publicada no
Diário Oficial da União desta sexta em uma decisão que surpreendeu o agora
ex-ministro. De acordo com Moro, a expectativa é que Valeixo fosse transferido
para um posto de adido da corporação em Portugal.
Foi o próprio ex-ministro quem
escolheu Valeixo para o comando da PF. Valeixo foi indicado ainda em novembro
de 2018, durante a transição presidencial. Ele era superintendente da Polícia
Federal no Paraná, onde, assim como Moro, atuou na Operação Lava Jato.
Entrevista de Moro
Na entrevista coletiva desta
manhã, Moro diz que não se sentiu confortável com a decisão de Bolsonaro. Ele
afirmou também que sempre houve uma preocupação da interferência do executivo
nas investigações da operação Lava Jato e que "Valeixo fez um grande
trabalho e foi garantida a autonomia da polícia federal".
O ex-ministro afirmou ter dito ao
presidente que a indicação "seria uma interferência política e ele disse
que seria mesmo". "[Bolsonaro] disse que queria ter uma pessoa do
contato pessoal, que pudesse ligar, ter informações e não é o papel da PF
prestar esse tipo de informações, o papel tem que ser preservado. Imagine se
Dilma ou Luiz ficasse ligando para Curitiba para colher informações".
Moro afirmou que, desde o segundo
semestre do ano passado, "o presidente passou a insistir na troca do
diretor-geral da PF". O agora ex-ministro disse ainda que "não é
questão do nome, há outros delegados igualmente competentes. O grande problema
é que haveria uma violação à promessa que me foi feita, de ter carta branca,
não haveria causa e estaria havendo interferência política na PF, o que gera
abalo na credibilidade".
Em agosto de 2019, o presidente
disse que o diretor da PF era subordinado a ele e não a Moro, sinalizando que
pretendia trocar o comando. No começo deste ano, Bolsonaro afirmou disse
que estudava a recriação do Ministério de Segurança Pública. Nos planos,
estaria retirar do ministério os comandos de seus três principais órgãos: a
Polícia Federal, o Depen (Departamento Penitenciário Nacional) e a PRF (Polícia
Rodoviária Federal).