agência lusa -16/06/2024 22:44
O Brasil foi um dos países que não assinaram, neste domingo (16), o comunicado final da
Cúpula para a Paz na Ucrânia, documento que pede o envolvimento de todas as
partes nas negociações para alcançar a paz e “reafirma a integridade
territorial” ucraniana.
Neste sábado (15), em entrevista coletiva na Itália, o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva revelou que disse à
presidente da Confederação Suíça, Viola Amherd, que tomou a decisão de não ir
ao encontro internacional deste domingo porque o Brasil só participaria da
discussão sobre a paz quando os dois lados em conflito, Ucrânia e Rússia,
estiverem sentados à mesa.
“Porque não é possível você ter uma briga entre dois e achar
que se reunindo só com um, resolve o problema”, afirmou. Diante do impasse dos
dois chefes de Estado, Lula afirmou que o Brasil já propôs, em parceria com a
China, uma negociação efetiva para a solução do conflito.
“Como ainda há muita resistência, tanto do Zelensky
[Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia], quanto do Putin [Vladimir Putin,
presidente da Rússia], de conversar sobre paz, cada um tem a paz na sua cabeça,
do jeito que quer, e nós estamos, depois de um documento assinado com a China,
pelo Celso Amorim [assessor-Chefe da Assessoria Especial do Presidente da
República do Brasil] e pelo representante do Xi Jinping [presidente da China],
estamos propondo que haja uma negociação efetiva.”
“Que a gente coloque, definitivamente, a Rússia na mesa, o
Zelensky na mesa, e vamos ver se é possível convencê-los de que a paz vai
trazer melhor resultado do que a guerra. Na paz, ninguém precisa morrer, não precisa
destruir nada. Não precisa vitimar soldados inocentes, sobretudo jovens, e pode
haver um acordo. Quando os dois tiverem disposição, estamos prontos para
discutir”, acrescentou o presidente.
Ao encontro internacional deste domingo, o Brasil enviou a embaixadora
do Brasil na Suíça, a diplomata Claudia Fonseca Buzzi. O presidente ucraniano
também esteve na cúpula para obter apoio internacional para o seu plano de
acabar com a guerra desencadeada pela invasão russa.
Sem unanimidade
Ao fim da Cúpula para a Paz na Ucrânia, na Suíça, não houve
unanimidade entre as 101 delegações participantes. O documento, que pede que
“todas as partes” do conflito armado estejam envolvidas para alcançar a paz,
foi assinado por 84 países, incluindo lideranças da União Europeia, dos Estados
Unidos, do Japão, da Argentina e dos africanos Somália e Quênia.
De acordo com o comunicado final, os países signatários
assumem que os princípios de soberania, independência e integridade territorial
de todos os Estados devem ser salvaguardados.
Quanto à segurança nuclear, os países que ratificaram a
declaração final estabeleceram que o uso de energia e instalações nucleares
deve ser seguro, protegido e ambientalmente correto. As instalações nucleares
ucranianas, incluindo Zaporizhia, devem operar com segurança, sob total
controle do país. O documento reforça que qualquer ameaça ou uso de armas
nucleares no contexto da guerra em curso contra a Ucrânia é inadmissível.
Segundo a agência de notícias espanhola Efe, entre os países
que não assinaram o comunicado estão os membros do BRICS (bloco formado por
Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), sendo que Rússia e China sequer
enviaram representantes. Também não assinaram o documento Arménia, Bahrein,
Indonésia, Líbia, Arábia Saudita, Tailândia, Emirados Árabes Unidos e México.
Cessar-fogo não aceito
Na sexta-feira (14), o presidente russo, Vladimir Putin,
prometeu estabelecer imediatamente um cessar-fogo na Ucrânia e iniciar
negociações se o país começasse a retirar as tropas das quatro regiões anexadas
por Moscou, em 2022: Donetsk, Luhansk, Kherson e Zaporíjia. Putin ainda exigiu
que a Ucrânia renunciasse aos planos de adesão à Otan (Organização do Tratado
do Atlântico Norte).
Desde fevereiro de 2022, a Ucrânia resiste à invasão russa
com o objetivo de manter sua integridade territorial e exige a saída de todas
as tropas russas do território. Kiev (capital da Ucrânia) mantém a pretensão de
aderir à aliança militar do Atlântico Norte.
As condições impostas pelo mandatário russo para um possível
acordo de paz foram rejeitadas de imediato pela Ucrânia, pelos Estados Unidos e
pela Otan, após dois anos e quatro meses do início do conflito, com a invasão
da Ucrânia pela Rússia.