r7 -07/04/2023 08:54
Retomar a produção de carros populares, ou carros de
entrada, como eles são chamados hoje, é um dos temas que o setor automotivo
quer discutir com o governo Lula. Para isso, um grupo composto por montadoras,
empresas de autopeças e concessionárias já conversou com representantes
do MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços),
comandado por Geraldo Alckmin.
Uma das justificativas para que se volte a fabricar
automóveis mais baratos é a diminuição
nas vendas de carros novos, consequência direta da queda do poder
aquisitivo dos consumidores. Também tiveram influência os juros
elevados, o crédito restrito e o alto custo dos modelos mais
modernos, com tecnologia avançada e maior segurança. Esses veículos têm seu
público, mas em menor número entre os consumidores.
O presidente da Fenabrave (Federação Nacional da
Distribuição de Veículos Automotores), José Andreta Júnior, afirmou que o setor
'precisa de escala'; do contrário, não consegue gerar rentabilidade, o que
poderia abrir as portas para demissões no setor.
Ele afirmou que a entidade tem um banco de dados que pode
ser colocado à disposição do governo, para ajudar a "ativar a produção [de
carros mais baratos] no Brasil".
Embora a venda de automóveis e comerciais leves tenha
registrado alta de 56% em março, na comparação com fevereiro (mês com menos
dias úteis), o presidente da Fenabrave disse que os números "não refletem
a realidade, pois estão mascarados pelo fraco desempenho de 2022".
O balanço do primeiro trimestre, divulgado nesta terça-feira
(4), também mostrou que houve reação do mercado nesses três primeiros meses de
2022, com aumento de 16,6% nas vendas, o que corresponde a 436,8 mil unidades
que saíram dos pátios.
Crise do setor
Porém, um estudo realizado pela consultoria S&P Global
mostra que as montadoras operam com quase 40% de ociosidade. Em fevereiro,
a produção
de veículos foi a menor para o mês dos últimos sete anos, com 161,2 mil
automóveis montados, uma queda de 2,9% em relação ao mesmo período de 2022,
segundo a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos
Automotores).
Há
poucos dias, uma das maiores montadoras de automóveis do país,
a Volkswagen, anunciou que iria conceder novos períodos de férias
coletivas aos trabalhadores das fábricas de Taubaté e de São Carlos,
no interior de São Paulo, no início deste mês. Entre os dias
22 de fevereiro e 3 de março, a marca já havia dado férias gerais para os
funcionários de três fábricas, incluindo a de São Carlos, mais as unidades
de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, e em São José dos Pinhais, no
Paraná.
Cerca de 15 dias atrás, as empresas Hyundai,
General Motors e Stellantis (dona das marcas Fiat, Jeep, Peugeot e Citroën)
também vieram a público comunicar uma pausa na produção, com férias coletivas
dos trabalhadores, com o objetivo de tentar reverter os impactos causados
pela queda nas vendas de veículos no Brasil.
Por tudo isso, Andreta avalia que "o crescimento do
setor tem de vir de baixo para cima, e atingir o consumidor que, hoje, não
consegue mais comprar carro zero".
Conceito de carro popular
Atualmente, existem apenas dois modelos de carros
considerados 'de entrada' à venda no país: o Renault
Kwid, que custa R$ 68,2 mil, e o Fiat
Mobi, vendido a R$ 69 mil.
Na semana passada, Antonio Filosa, presidente na América do
Sul da Stellantis, também se mostrou empenhado em pedir a volta dos carros
populares. Mas, na visão do executivo, é necessário, primeiramente, definir o
conceito de carro popular. Para ele, é: pequeno, mais simples, com menos
equipamentos, mas seguro.
Para que esse produto possa ser mais barato, Filosa defende
a redução de impostos, a definição dos itens de segurança essenciais, e crédito
mais acessível.
O carro popular surgiu em 1993, quando foi estabelecida uma
alíquota menor de IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para automóveis
com motor 1.0. "Mas, hoje, até carro com motor turbo ou aspirado tem motor
1.0", ressaltou o executivo, referindo-se a produtos mais sofisticados.
Segundo Andreta, da Fenabrave, agora, a ideia é que cada
segmento dê sua contribuição para o projeto, como ocorreu nos anos 1990, quando
foi feito o acordo automotivo. Mas, acrescentou, ainda não há propostas na
mesa.
Essa discussão sobre a retomada do carro popular ocorre num
momento em que montadoras
tiveram de suspender sua produção e dar férias coletivas aos trabalhadores,
por falta de demanda. Atualmente, há estoque suficiente para 40 dias de vendas.
O setor apostava na demanda reprimida nos últimos dois anos
para ter resultados melhores em 2023, mas o juro alto, a inadimplência e a
restrição de crédito travaram o mercado.