r7 -31/12/2022 10:25
A distribuição de ministérios
a nove partidos em nome da governabilidade pode não surtir efeito
neste começo de governo do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT),
avaliam políticos e especialistas. Além do próprio PT, os principais partidos
contemplados foram o MDB, o PSD e o União Brasil. Cada uma das siglas indicou
três ministros.
A escalação dos partidos de centro — não apenas das siglas
que o ajudaram na eleição — é um esforço de Lula para formar um governo capaz
de aprovar com mais facilidade os temas que terá de negociar com o
Congresso.
O União Brasil é um exemplo. Lula entregou ao partido os
ministérios das Comunicações, do Turismo e da Integração e Desenvolvimento
Regional — esse último ficará com o atual governador do Amapá, Waldez Góes, que
vai trocar o PDT pelo União Brasil, e teve seu nome indicado pelo senador Davi
Alcolumbre (União Brasil-AP).
O partido tem uma das maiores bancadas da Câmara — 59
deputados. Apesar de ter ajudado o futuro governo na aprovação da PEC
do estouro, o alinhamento à gestão petista não é automático.
O presidente do partido, Luciano Bivar, afirma que o União
Brasil não está na base do governo. "A gente está com essa deferência
especial do presidente, mas o partido continua independente. Esse é o
posicionamento de agora e em um momento oportuno vamos conversar", afirmou
ao R7.
O PSD, que elegeu 42 deputados para a próxima legislatura,
se manteve neutro nas eleições, mas vai compor a base de Lula na Câmara dos
Deputados. "A temperatura no PSD é favorável [a Lula], mas isso não
significa que o partido vai aprovar tudo. Assim como aconteceu no governo
Bolsonaro, estamos comprometidos com as pautas que são boas para o
Brasil", comentou o deputado Darci de Matos (PSD-SC), vice-líder do
partido na Câmara.
Fundador e presidente da organização não governamental
Contas Abertas, o economista Gil Castello Branco avalia que o resultado dessa
distribuição deve aparecer nos três primeiros meses de mandato, quando o
governo ainda está acomodando sua estrutura.
"Mesmo que entrem juntos nessa, existem posições
contrárias dentro dos próprios partidos e, provavelmente, os entraves vão
continuar existindo. Pode ser um apoio maior, mas não é algo que desde já
esteja resolvido", afirma. "Esse teste de governabilidade veremos ali
por volta do mês de março, até que ponto os partidos se consideram atendidos,
mas sabemos que nem todos ficam satisfeitos", completa.
Para o advogado e cientista político Nauê de Azevedo, mesmo
que Lula tenha aberto o diálogo e contemplado os partidos de centro, não há
garantias de que o loteamento da Esplanada dos Ministérios seja revertido em
votos no Congresso.
"A composição ministerial, neste primeiro momento, pode
ser a chave para auxiliar o novo governo a estabelecer pontes de diálogo para
ter alguma maioria em matérias que não sejam alterações constitucionais. Mas,
ainda assim, vai ser necessário compatibilizar interesses com outros grandes
partidos que, neste primeiro momento, não integram a base formal do governo",
analisa.
Segundo escalão
O PT pretende acomodar aliados a partir de agora na formação
do segundo escalão. A presidente do partido, Gleisi Hoffmann, disse que
partidos que ficaram de fora nesse primeiro momento — como Avante, PV,
Solidariedade e PROS — ainda serão atendidos.
"Vamos começar agora a discussão das composições do
segundo escalão. Nenhum ministério é porteira fechada. Vai ter sempre
composição, foi isso que o presidente pediu que fizéssemos e esses partidos são
prioridade para nós", afirmou Gleisi.
Segundo o presidente eleito, será agendada uma reunião com
todos os ministros para alinhar as expectativas do governo para cada área. Na
sequência, essa articulação será com os governadores. "Para que a gente
possa compartilhar a construção e o financiamento
e trabalhar", declarou Lula.