r7 -13/03/2021 23:12
A ex-presidente interina da Bolívia,
Jeanine Añez, foi detida na madrugada deste sábado (13) em Trinidad, a cidade
onde mora, no noroeste do país. Durante horas, policiais a procuraram pela
cidade, e chegou a se cogitar que ela teria fugido, possivelmente para o
Brasil. No fim, ela foi encontrada dentro do box de uma cama em sua própria
casa.
A televisão boliviana mostrou Áñez chegando ao aeroporto de
El Alto, que serve La Paz, momento em que ela acusou sua prisão como
"ilegal". Junto a ela, que não estava algemada, estavam o ministro do
Governo (Interior) Carlos Eduardo del Castillo e vários policiais.
Ela foi acusada pelo Ministério Público boliviano
de sedição, terrorismo e conspiração. As acusações dizem respeito ao
período após a eleição de 2019, que foi vencida pelo então presidente Evo
Morales. Após acusações de fraude eleitoral e em meio a uma onda de protestos e
violência contra seus aliados, ele renunciou à presidência e deixou o país.
Da presidência à prisão
Foi nesse contexto que Jeanine Áñez deixou de ser uma
senadora de direita quase desconhecida e se tornou a presidente interina da
Bolívia, em uma sessão legislativa atípica após a renúncia de Evo Morales. Com
a Bíblia em mãos, jurou reconstruir o destino do país onde hoje foi presa por
"sedição e terrorismo".
Em novembro de 2019, esta advogada de 53 anos, opositora
ferrenha de Morales, prometeu novas eleições em breve. No entanto, um ano
depois, após o adiamento de duas eleições e com a pandemia de coronavírus no
pano de fundo, Áñez deixou o poder em novembro de 2020 após a vitória de Luis
Arce, do mesmo partido de Morales.
A segunda mulher na história da Bolívia a alcançar o cargo
de presidente reconheceu sua derrota contra os rivais de esquerda, que um ano
antes ela acreditava que não voltariam a recuperar o poder.
"Parabenizo os ganhadores e peço que governem pensando
na Bolívia e na democracia", disse Áñez.
A ex-presidente, que também foi apresentadora de televisão,
morava na cidade de Trinidad, capital do departamento amazônico de Beni
(noroeste), onde foi presa pela polícia com base em uma ordem assinada por dois
promotores de La Paz.
No domingo passado, Áñez se candidatou ao governo de Beni
nas eleições locais, mas ficou em terceiro lugar com 13% dos votos.
Após a derrota, prometeu que continuaria impulsionando
"as oportunidades e o bem-estar para as famílias benianas", sem
fornecer detalhes.
No entanto, nesta sexta-feira, assim que soube que era alvo
de uma orden de prisão, Áñez afirmou que era vítima de uma mentira e justificou
a "sucessão constitucional devido a uma fraude eleitoral" de novembro
de 2019.
A saída de Morales
Áñez assumiu a presidência dois dias depois de Morales
renunciar após 14 anos no poder, em meio a uma forte convulsão social surgida
após as eleições gerais um mês antes.
O então presidente indígena se candidatava para um quarto
mandato até 2025, mas os opositores alegaram que houve fraude nessas eleições e
exigiram a anulação de todo o processo eleitoral. Em seguida, membros da
polícia se amotinaram em todo o país.
Junto com Morales, renunciaram também seu vice-presidente
Álvaro García e os presidentes e primeiros vice-presidentes das câmaras dos
Deputados e Senadores, todos oficialistas e na linha de sucessão
constitucional.
A oposição de então argumentou que não podia haver vazio de
poder e que cabia a Áñez, então segunda vice-presidente do Senado, assumir o
primeiro cargo do país.
Bíblia, pandemia e prisão
Áñez entrou no Palácio do Governo com uma Bíblia debaixo do
braço e prometeu que sua única missão seria convocar as eleições gerais como
manda a Constituição em um prazo de seis meses. Ela foi a segunda presidente
mulher da Bolívia, depois de Lidia Gueiler (1979-1980), derrubada por um golpe
militar.
A repressão policial contra partidários de Morales causou
cerca de 35 mortes, segundo dados da Comissão Interamericana de Direitos
Humanos (CIDH).
Apesar de ter prometido apenas convocar as eleições, Áñez
anunciou em janeiro de 2020 sua candidatura à presidência, o que gerou críticas
de seus opositores e até mesmo de seus aliados.
Com a chegada da pandemia na Bolívia em março desse ano, uma
primeira denúncia de corrupção surgiu na compra de respiradores mecânicos
espanhóis. Áñez responsabilizou seu ministro da Saúde e o demitiu.
Em setembro, ela acabou desistindo de se candidatar para a
eleição presidencial devido às pesquisas que previam sua derrota certa para
Arce e os opositores.
Após o retorno do MAS ao poder, a ex-deputada Lidia Patty
apresentou em dezembro ao Ministério Público um pedido de investigação e
denunciou Áñez, vários de seus ministros, ex-chefes militares e policiais de
terem cometido um golpe de Estado.