Governo Lula é imprevisível e aumento de gastos preocupa, analisam economistas

r7 -23/12/2022 16:56

As nomeações ministeriais de Luiz Inácio Lula da Silva, anunciadas na quinta-feira (22), tiveram perfis diferentes das anteriormente feitas pelo presidente eleito.

Foram 16 nomes anunciados por Lula para composição do governo que assume em 1º de janeiro, como Alexandre Padilha (Ministério das Relações Institucionais), Márcio Macêdo (Secretária-geral da República), Nísia Trindade (Ministério da Saúde), Camilo Santana (Ministério da Educação), Márcio França (Ministério dos Portos e Aeroportos), Geraldo Alckmin (Ministério da Indústria e Comércio), entre outros.

O anúncio desses primeiros ministros ajuda a dar uma ideia do que virá pela frente em 2023 e não há um consenso positivo sobre os nomes e nem a respeito do que pode vir a ser o governo de Lula, considerado "imprevisível" até aqui.

Embora a escolha de pessoas de fora do PT foi bem-vista, como explica Augusto Caramico, analista de investimentos e professor de finanças pela PUC-SP, ainda há muitas incertezas e preocupações com o governo petista. “O governo estava propondo só ministros do PT (Partido dos Trabalhadores), como o Fernando Haddad (Fazenda), Rui Costa (Casa Civil), Flavio Dino (Justiça) e até o Mercadante no BNDES. Dos outros partidos, não existiam nomes ainda”, afirma.

Caramico analisa que o mercado viu com preocupação as escolhas iniciais de Lula, justamente por serem “pastas mais pesadas” entregues ao próprio partido.

Por conta disso, a bolsa cedeu e os juros futuros chegaram a ser precificados em até 16%. Todo o mercado acompanha com apreensão o possível aumento de impostos, além dos altos gastos do governo de Lula. O petista já aumentou o número de ministérios, que saltará, em 2023, dos atuais 23 para 37. Assim, mesmo nomes como o do vice-presidente eleito Geraldo Alckmin, que também será ministro da Indústria e Comércio, não são suficientes para acalmar os ânimos. Caramico acredita que o mercado já vê um “Estado crescendo novamente e o aumento de impostos”.

"Risco de 'Dilmar' sempre tem, porque é imprevisível e não há como saber o que será feito na área econômica, mas as contas públicas estão melhores hoje do que estavam quando a Dilma assumiu a Presidência", conclui o economista.

Bruno Komura, analista da Ouro Preto Investimentos, tece críticas na mesma linha. “A equipe econômica pode até ser técnica, mas enxerga o Estado como indutor da economia. O PT vai tentar ser ‘gastão’, parecido com o governo Dilma", analisa.

Por este motivo, Komura explica que será necessário negociar com o Congresso uma âncora fiscal, até agosto de 2023, em relação a 2024 para "maior previsibilidade no futuro próximo".

Apesar de diferente, sobretudo no Senado, porque mais alinhado com ideias liberais, o Congresso deve sentar-se à mesa de negociação com o presidente eleito, ainda que seja mais díficil, porque "tem bom trânsito, e é dessa forma que Lula governa", analisa.

Sobre uma possível “herança maldita” defendida pelos petistas sobre o governo Bolsonaro, o professor Mauro Calil, fundador da Academia do Dinheiro, diz que “a economia está relativamente estável, os índices inflacionários estão menores do que da Zona do Euro e o nível de desemprego está bastante baixo, então não é possível falar em herança maldita”.

Por isso, enfatiza que “se futuramente, a economia piorar, a culpa será do governo que assume em janeiro, então nesse aspecto podemos até ver um Dilma 2”.