estadao conteudo -14/01/2021 14:49
O governo federal disse a empresários, em reunião virtual
realizada na quarta-feira (13) e promovida pela Fiesp (Federação das Indústrias
do Estado de São Paulo), que a aquisição de vacinas contra a covid-19 por empresas
para imunização de funcionários será proibida, apurou o jornal O Estado de S.
Paulo.
Respondendo à principal dúvida de executivos e donos de
negócios, alguns dos quais já se movimentavam para importar doses,
representantes dos Ministérios da Saúde, das Comunicações e da Casa Civil foram
taxativos: a vacinação ficará a cargo do governo, que garantiu ter imunizantes
para toda a população.
A reportagem conversou com duas fontes que participaram da
reunião. Um deles disse ter saído do encontro "mais tranquilo" do que
entrou. Alguns dos presentes, no entanto, fizeram críticas à comunicação
contraditória do governo em relação à vacinação.
Além de afastar a possibilidade de o setor privado fazer uma
vacinação paralela, o governo também afirmou que já tem cerca de 500 milhões de
doses contratadas. Outro recado foi de que, pelo fato de ter um programa de
imunização já estabelecido, o Brasil poderá recuperar o "tempo
perdido" em relação a nações que já vêm vacinando há mais de um mês.
Do lado do governo, participaram o ministro-chefe da Casa
Civil, general Braga Netto; o ministro das Comunicações, Fábio Faria; e o
secretário-geral do Ministério da Saúde, Élcio Franco. Os empresários
convidados para a reunião fazem parte de um grupo reunido pela Fiesp, chamado
Diálogo Brasil, que visa a aproximar o setor produtivo das decisões do Palácio
do Planalto.
Uma das propostas das empresas, na tentativa de ajudar a
acelerar a imunização, era doar uma dose para o programa nacional de imunização
para cada vacina aplicada em um funcionário. No entanto, o argumento oficial
para descartar a oferta foi de que, com a produção tanto pelo Instituto
Butantan quanto pela Fiocruz, não haverá falta de imunizantes. A expectativa do
governo é de que o país possa até se tornar exportador de vacinas mais para o
fim deste ano.
A exemplo do que foi comunicado pelo ministro da Saúde,
Eduardo Pazzuello, a previsão da reunião foi de que a vacinação no país deverá
começar ainda na semana que vem, entre os dias 19 e 20.
Dilema
Desde o início desta semana, o jornal O Estado de S. Paulo
teve conversas com diversos empresários, que se dividiam em dois grupos: o
primeiro já se movimentava para importar imunizantes para seus funcionários e
suas famílias; o segundo considerava antiético "furar a fila" dos
grupos de risco definidos: idosos, profissionais de saúde e portadores de
doenças crônicas.
Uma grande varejista, com dezenas de milhares de empregados,
chegou a dar os primeiros passos para importar vacinas para funcionários e seus
familiares. A reportagem também apurou que uma empresa ligada ao setor
automotivo também estava buscando alternativas para seus 3 mil colaboradores.
Agora, essas iniciativas devem ser abandonadas.
Por outro lado, outras companhias, mesmo antes do veto
oficial, já tinham descartado usar seu poder econômico para que seus
funcionários "furassem a fila" da imunização.
O presidente de uma grande indústria disse, em condição de
anonimato, que, após uma reunião de diretoria, ficou acordado que a empresa não
buscaria comprar vacinas. "Isso faria sucesso com o nosso público interno,
mas achamos que, em relação aos grupos de risco, seria antiético. Então, não
faremos."
Os empresários consultados disseram estar dispostos a dar
apoio financeiro para agilizar a vacinação. As companhias aéreas já anunciaram
que vão fazer o transporte das vacinas gratuitamente.
Procurados, os ministérios da Saúde, das Comunicações e da Casa Civil não se pronunciaram até o fechamento da edição da quinta-feira, 14, do jornal O Estado de S. Paulo.