r7 -24/01/2022 11:11
Desde que a pandemia se instalou no Brasil, uma série
de estudos
e pesquisas tem mostrado o impacto dessa realidade na saúde mental dos
brasileiros. Nestes quase dois anos do primeiro infectado no país, o início de
uma nova
onda de Covid-19 causada pela variante Ômicron trouxe novamente à tona
medo, insegurança e incerteza sobre o futuro.
Na última semana, o Brasil voltou a registrar recordes
diários de novos casos da doença, quebrando picos consecutivos com mais
de 200 mil diagnósticos positivos por dia. O cenário exigiu a retomada
de algumas restrições pelos estados e culminou no cancelamento
do Carnaval, além da suspensão da
temporada de cruzeiros.
Na esfera pessoal, viagens e planos foram novamente adiados
ou cancelados. A infectologista Ingrid Cotta, da Beneficência Portuguesa de São
Paulo, destaca que no consultório as queixas sobre o comprometimento
psicológico têm aparecido de forma constante.
"Eu faço muita teleconsulta, e temos visto pacientes
que são bastante comprometidos do ponto de vista de saúde
mental, já passaram pela Covid na semana passada, mas estão ligando
porque não sabem como lidar com esta nova onda [da doença], principalmente no
trabalho", relata.
Além disso, a médica ressalta a ausência de políticas
públicas para mitigar os efeitos psicológicos da pandemia na população.
"É preciso reconhecer a presença do comprometimento da
saúde mental e propor políticas de saúde públicas para abordar essa questão e
não negligenciar [o problema], porque as redes sociais tendem a nos dizer que
está tudo ótimo", afirma.
Como cuidar da saúde mental neste momento?
A chegada de 2022 trouxe a esperança de que a vida poderia
voltar ao normal depois da Covid-19. Mas, com a Ômicron varrendo
o mundo e com a desigualdade no acesso às vacinas, a OMS (Organização Mundial
da Saúde) acredita que a
pandemia está longe de acabar.
Para lidar com a frustração e a desesperança desta nova fase, a psicóloga
Marilene Kehdi chama a atenção para a importância de procurar apoio emocional e
ajuda especializada.
“Se a pessoa não estiver sabendo lidar com as emoções que
estão surgindo ou que estão se acentuando, é importante procurar ajuda
psicológica. Pessoas de todas as idades tiveram a saúde
mental afetada em maior ou menor grau durante esse período e, quanto
antes se dá atenção para isso, melhor para a vida num todo”, afirma.
Segundo a especialista, houve um aumento na procura por
atendimento psicológico online durante a pandemia, seja pela piora de
transtornos mentais já existentes, como ansiedade e síndrome do pânico, seja
pelo surgimento de sintomas depressivos.
“Conforme a pandemia vai se perpetuando, aumenta o nível de
estresse, de medo, de ansiedade e surgem ainda mais incertezas. A questão do
isolamento social teve um impacto muito grande, eu diria até que causou traumas
na vida de muitas pessoas. Existe a preocupação de 'será que eu vou conseguir
suportar isso?'. O ser humano não foi feito para viver isolado”, enfatiza.
Para lidar com as emoções no dia a dia, a psicóloga
recomenda respirar profundamente várias vezes, manter uma rotina organizada
para que os níveis de estresse sejam menores e fazer caminhadas em locais onde
seja possível estar em contato com a natureza.
“É importante pedir ajuda sempre que sentir necessidade, não
ter vergonha e procurar desabafar com pessoas de confiança. A saúde mental
reverbera em todos os aspectos, na saúde física, nos relacionamentos, na forma
de produzir profissionalmente, então é preciso respeitar os limites pessoais”,
diz.
Nos casos de distúrbios alimentares e do sono, é necessário
buscar ajuda médica especializada.