r7 -23/07/2021 23:43
O ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) acendeu um
novo alerta sobre os desafios do setor elétrico brasileiro neste ano frente ao
cenário de grave
crise hídrica nos reservatórios de hidrelétricas, sinalizando que a
capacidade de geração de energia no país poderá ser levada ao seu limite em
novembro.
Apesar de não ver ainda riscos de desabastecimento, o
operador indica que as sobras de potência - necessárias para atender eventuais
picos de demanda ou garantir a estabilidade do sistema mesmo em casos de falhas
eventuais na oferta - poderão se esgotar no penúltimo mês do ano.
Novembro é justamente quando, em tese, tem início o chamado
período molhado, que vai até março/abril, e é quando historicamente há maior
volume de chuvas nas regiões das hidrelétricas com grandes reservatórios.
No último período molhado, o Brasil registrou a pior estação
chuvosa para as hidrelétricas em mais de 90 anos.
O sinal vermelho foi ligado após o órgão elevar a previsão
de carga e considerar uma menor e mais realista disponibilidade térmica para
atender a demanda de energia, conforme nota técnica publicada na noite de
quinta-feira.
O cenário, segundo o órgão, "resulta em uma degradação
dos níveis de armazenamento ao final do período seco quando comparado com os
resultados do estudo prospectivo anterior, em especial dos subsistemas Sul e
Nordeste".
"Com relação ao atendimento aos requisitos de potência,
observam-se sobras bastante reduzidas no mês de outubro, com o esgotamento de
praticamente todos os recursos no mês de novembro", afirmou o ONS, em sua
nota técnica.
O aumento da previsão de carga se deu, segundo o órgão, após
um crescimento das atividades do comércio e serviços, além da manutenção do
ritmo elevado da produção industrial, principalmente daquelas voltadas para
exportação.
A atualização do estudo incorpora as flexibilizações de
restrições hidráulicas já autorizadas e considera o aumento do PIB para 4,5% ao
ano, em vez dos 3% ao ano que até então era usado como parâmetro.
"Dessa forma, essa nota técnica traz premissas mais
realistas e alinhadas com o momento econômico atual e às condições conjunturais
do SIN (Sistema Interligado Nacional)", disse o órgão.
Em contrapartida, o ONS frisou em comunicado que, nos dois
cenários considerados na nota técnica, "não há risco de desabastecimento
elétrico, mesmo diante das piores sequências hidrológicas de todo o histórico
de vazões dos últimos 91 anos". A fonte hídrica é a principal geradora de
energia do país.
Risco de blecaute
O professor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro)
Maurício Tolmasquim afirmou que o cenário de oferta apertada apresentado pelo
ONS traz um alerta para eventuais riscos de apagões de energia pontuais em
momentos de picos de demanda ou caso haja qualquer problema na oferta.
"A situação mais complicada, que demanda mais atenção,
continua sendo a questão do atendimento no horário de ponta... Como estará apertado
em termos de sobras, qualquer aumento inesperado da demanda ou falha na
oferta... pode trazer um problema", afirmou.
"Na hora da ponta coloca tudo. Se tudo operando não for
suficiente, tem uma falta (de energia)", acrescentou.
Tolmasquim, que também foi presidente da Empresa de Pesquisa
Energética, explicou que como o sistema elétrico brasileiro é interligado,
blecautes pontuais podem ser restritos ou alcançar grandes regiões.
O especialista, ponderou, no entanto, que tudo dependerá
ainda se a economia crescerá dentro do previsto atualmente ou de situações de
demanda, como temperaturas no mês de novembro, que podem gerar mais ou menos
consumo de ar condicionado, por exemplo.
O ONS também destacou em comunicado que "embora o estudo indique que até o fim de 2021 a situação permanecerá sensível, o Operador está acompanhando os desdobramentos das ações já em curso e atuando dentro de suas atribuições para aumentar a oferta das fontes de energia e garantir que não haja a suspensão do suprimento elétrico".
Em meados deste mês, o operador pediu aos geradores de energia que adiassem a manutenção e o trabalho técnico o máximo possível para ajudar a evitar o agravamento da crise de energia, além de reiterar que não havia risco de racionamento de energia.