folha -08/04/2020 21:44
O senador Bernie Sanders, 78, anunciou nesta quarta (8) que
desistiu de tentar ser o candidato democrata nas eleições presidenciais dos EUA
de 2020.
A decisão veio após mais uma derrota, desta vez nas
primárias de Wisconsin. Sanders perdeu para Joe Biden, que deve ser o rival de
Donald Trump na votação de novembro.
Sanders foi o último competidor de peso a desistir em uma
corrida que começou com mais de 20 nomes, no ano passado.Ele apostou na imagem
de nome de fora do sistema -embora atue na política desde os anos 1980. Sua principal
bandeira é a redução da desigualdade social. Ele defende posições consideradas
radicais nos EUA, como que o Estado ofereça educação e saúde gratuitas para
todos, que aumente a taxação sobre bilionários e reforce a regulação do setor
financeiro.
Sua postura teve apelo especialmente sobre os jovens. Ele se
juntou a um movimento progressista que ganhou força no Partido Democrata após
as eleições legislativas de 2018 e que tentou levar a legenda mais para a
esquerda.
Os EUA vivem uma boa fase de crescimento e de baixo
desemprego -ao menos antes da chegada do novo coronavírus-, mas a renda das
famílias não avança da mesma forma. Com isso, casos de pessoas que não
conseguem pagar a própria casa ou enfrentam problemas graves com gastos de
saúde se multiplicam. O ressentimento de quem se sente ficando para trás foi
bem explorado por Trump em 2016, e havia a expectativa de que Sanders poderia
se conectar com esse público.
Para o cientista político Leandro Consentino, professor do
Insper, a derrota de Sanders demonstra um certo cansaço dos eleitores com o
radicalismo. "Parte do eleitorado democrata rejeitou contrapor Trump com
outro Trump do lado de cá", avalia.
Consentino aponta também que Sanders teve dificuldade para
provar a viabilidade de suas propostas, e que sofreu desgaste ao disputar a
posição de nome progressista com a senadora Elizabeth Warren.
No início das primárias, em fevereiro, o senador despontou
como favorito e venceu em dois estados: New Hampshire e Nevada. Mas, na etapa
seguinte, na Carolina do Sul, Biden começou a arrancada que o levou à vitória:
ele venceu naquele estado apostando no voto dos eleitores negros.
Em seguida, o ex-vice de Obama foi o grande vencedor da
Super Terça, em 3 de março, quando 14 estados foram às urnas ao mesmo tempo.
Sanders, no entanto, conquistou a Califórnia e mais cinco estados, o que lhe
deu fôlego para seguir com a campanha enquanto outros nomes de peso, como
Elizabeth Warren e Michael Bloomberg, desistiram.
Biden recebeu apoio de quase todos os desistentes
importantes, como Bloomberg e Pete Buttigieg, além de governadores e prefeitos.
Sanders teve endosso de apenas dois ex-pré-candidatos, incluindo o prefeito de
Nova York, Bill de Blasio.
Depois da Super Terça, a disputa democrata virou um duelo
entre Biden e Sanders. Mas a campanha presidencial em si ficou em segundo plano
com o avanço do coronavírus. Comícios e eventos com os candidatos foram
desmarcados, e algumas primárias, adiadas.
O ápice do duelo foi um debate na TV no último dia 16 , mas
os dois preferiram falar mais para suas bases e o resultado acabou sendo um
empate, na visão de analistas. Vantagem para Biden, que estava ganhando.
Filho de judeus, Sanders nasceu no Brooklin, em Nova York,
em 1941. Nos anos 1960, formou-se em Ciência Política na Universidade de
Chicago. Na cidade, ele se envolveu no movimento pelos direitos civis, que
sacudiu os EUA naquela década.
Na década de 1970, Sanders se tornou ativista contra a
Guerra do Vietnã e tentou ser governador de Vermont, estado para o qual se
mudou, por duas vezes.
A primeira vitória eleitoral veio em 1981, quando foi eleito
prefeito de Burlington. Depois, foi deputado federal (1991-2007) e senador
(desde 2007). No Congresso, virou um símbolo por questionar cortes em programas
sociais e guerras, mas aprovou poucos projetos.
Embora não faça parte do Partido Democrata, Sanders disputou
as primárias presidenciais também em 2016. Naquela eleição, ele também ficou em
segundo lugar, perdendo a nomeação para Hillary Clinton. No entanto, a disputa
foi mais longa: ela só obteve a vitória em junho.
Um dos fatores que levaram a ex-primeira dama a vencer
naquele ano foi justamente o apoio dos negros, que também não foram atraídos
pelo discurso de Sanders.