r7 -04/07/2021 17:54
O secretário da Educação do Estado de São Paulo, Rossieli
Soares, comprou a briga da escola aberta. Durante toda a pandemia, tem sido a
voz que mais defende o retorno presencial, até nas fases críticas. No entanto,
mesmo com a rede paulista funcionando, os alunos não voltaram em massa. À
reportagem, Rossieli fala das perdas na aprendizagem — principalmente no ensino
médio —, do temor de grande abandono neste semestre e de uma recuperação que
terá de deixar de lado o currículo.
"Ao invés de dar conteúdo novo, vamos dar revisão,
conteúdos anteriores, de nivelamento. Esquece esse negócio todo aqui do
currículo. É lindo, bonito, mas precisamos dar uns passos para trás para voltar
a caminhar." Ele ainda deixa claro que pretende tornar obrigatória a
presença dos alunos na escola em setembro, quando todos os adultos já terão
tomado a primeira dose da vacina anticovid.
Por que poucos alunos têm voltado ao presencial na rede
estadual?
São muitas razões e uma delas é que já houve diversas
"voltas às aulas". Quando a gente começou, em 8 de setembro (de
2020), sabia que seria algo crescente, e assim foi, até o final do ano. Tivemos
um bom desempenho até fevereiro e aí veio essa nova onda. Esse tanto de casos
(de covid) atrapalha muito. Porque você quebra o elo de confiança com a
família, ela começa a pensar "não vou mandar agora". Há também
mentira, fake news, erro. E meias verdades, como um professor que pegou covid.
Mas pegou dentro da escola ou porque foi ao restaurante, praia, supermercado?
Teve também a questão de emprego, a crise financeira das famílias. O menino
fazendo aula a distância de um jeito ou de outro e a família acha: 'Meu filho
está avançando, tendo algo. E ele está me ajudando aqui porque cuida do filho
mais novo'.
Muitos alunos até deixaram de abandonar a escola por
isso.
Sem dúvida, é só pegar os dados do Estado. Tivemos a menor
taxa de abandono da história em 2020, o pior ano da educação. Por quê? Porque a
gente teve todo um trabalho pra manter o vínculo com o estudante. Sabe quando é
que é que vai dar, realmente, o tamanho do problema? Quando a gente disser: é
obrigatório voltar para a escola agora. Vamos lá, já vamos ter vacinado, talvez
em setembro. Quando chegar a esse momento, o jovem vai ter de escolher entre
ajudar a família a botar o que comer em casa ou voltar à escola. Esse vai ser o
maior desafio.
Qual o momento de exigir a volta presencial obrigatória?
É fundamental que a gente construa esse caminho. Se disser
que é obrigado de repente, vai acabar forçando o abandono da escola. A previsão
é em 15 de setembro ter vacinado todo mundo acima dos 18 anos com a primeira
dose. A primeira dose é muito eficaz, já vai ter um nível de proteção mais
alto. Aí é o momento de cravar que é hora de voltar.
O aluno que está no ensino online está aprendendo?
Está. Todo o esforço que está sendo feito, seja pelo Centro
de Mídias aqui em São Paulo, pelo professor, trabalho no WhatsApp, sinal de
fumaça
O professor está correndo atrás. Mas ele
não está aprendendo o que aprenderia na escola, é preciso deixar claro. Isso
está mantendo o vínculo com o aluno e com o processo de aprendizado. Mas o
presencial realmente nunca será substituído na educação básica.
Nas escolas particulares, a volta presencial chega a
100%...
Isso é o aumento da desigualdade na veia. O discurso de não
voltar está prejudicando o aluno da rede pública, o que mais precisa. Acho que
as próximas avaliações nacionais vão ser um desastre, vai ficar muito claro o
tamanho do buraco. Precisaremos ensinar dois, três anos dentro de um ano para
começar a recuperar.
Quando o senhor era ministro da Educação, em 2018, disse que
o Brasil estava no fundo do poço em matéria de ensino. E agora, onde estamos?
Nem sabemos se temos um conceito para baixo do porão do poço
agora. Mas é importante lembrar: estamos falando de uma geração da qual
precisamos cuidar, que vai ter muitas dificuldades. A maior delas ainda é para
o aluno que fez o 2.º ano do ensino médio no ano passado e está no 3.º ano.
Talvez eu só tenha três, quatro meses pra apoiar esse menino. É difícil a
situação, tenho certeza de que a perda vai estar muito mais clara no futuro
desses jovens, por não terem tido acesso ao ensino médio como deveriam.